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O crânio dos musaranhos encolhe para sobreviver ao inverno

O cérebro também diminui de tamanho (algo entre 20% e 30%). Mas não se preocupe, quando chega a primavera, tudo volta ao tamanho normal.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 out 2017, 16h28

Os musaranhos (nome genérico, que se aplica a várias espécies da família Soricidae) são bichinhos curiosos. Primeiro porque é muito fácil pisar em um deles sem perceber (cuidado!). Eles não medem mais de 10 cm, e alguns têm meros 2,5 cm – o que lhes rende o título de menores mamíferos do mundo. Assim como os exóticos ornitorrincos, eles são venenosos – e, só para humilhar Moisés, são capazes de andar na superfície da água.

Não para por aí: por causa de seu metabolismo frenético, o animal come o equivalente ao próprio peso a cada três horas, e seu coração bate 1,2 mil vezes por minuto – o de um ser humano saudável, em comparação, bate algo entre 60 e 100.

Agora, uma nova habilidade acaba de se juntar a esse currículo já peculiar: com o intuito de economizar energia, o musaranho absorve 15% de seu crânio e 25% de seu cérebro durante o inverno – o osso e o órgão voltam quase ao tamanho normal quando chega a primavera. A descoberta foi anunciada ontem por biólogos do Instituto Max Plank, na Alemanha.

“Reduzir o tamanho do cérebro pode economizar energia, e o cérebro gasta muita energia”, explicou Javier Lázaro, o pesquisador responsável, à Nature. Segundo ele, a oferta de comida, no inverno, é inevitavelmente menor – o que torna a política de austeridade necessária para um bichinho tão comilão.

O próximo passo é descobrir quais partes do cérebro o musaranho sacrifica em nome de suas calorias. É provável que elas estejam mais associadas aos comportamentos complexos típicos do verão, como encontrar parceiros sexuais – e que, por isso, não façam falta no frio, quando o pequeno mamífero só precisa se preocupar em encontrar comida e sobreviver.

Embora o dado sobre o cérebro seja o mais impressionante, todo o corpo do animal é uma sanfona: ele perde 17% de seu peso total antes do inverno, mas cresce incríveis 83% quando volta o calor. A queda na taxa de metabolismo, durante o período de vacas magras, é 20%, um valor considerável, que parece justificar a mudança radical no corpo.

É bom reforçar que o musaranho não emagrece no sentido humano da palavra. Em outras palavras, ele não perde gordura – o que seria, de qualquer forma, uma má ideia se o que você quer é justamente não passar frio. São os órgãos em si que diminuem de tamanho, um fenômeno que não tem paralelo nem em nós nem em nenhum outro mamífero de grande porte. “Essa é a maior mudança reversível pós-natal no tamanho do crânio de um mamífero já registrada”, afirma o artigo científico.

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