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O que faz a pílula derivada de fezes aprovada nos EUA

Ela promete reestabelecer o equilíbrio da microbiota intestinal, prevenindo uma infecção grave.

Por Luisa Costa
28 abr 2023, 16h44

Na última quarta (26), a Food and Drug Administration (FDA, a Anvisa dos EUA) aprovou a primeira pílula fabricada a partir da microbiota intestinal humana – mais especificamente, de fezes doadas por pessoas saudáveis. Mas não precisa torcer o nariz: das fezes, a Vowst só pega emprestadas algumas bactérias.

O corpo de um adulto abriga, em média, 39 trilhões de bactérias – a maioria no sistema digestivo. Enquanto há um equilíbrio entre esses seres microscópicos, tudo bem. O problema é que algumas situações, como o uso incorreto de antibióticos, podem alterar a microbiota intestinal, levando à falta (ou ao excesso) de determinadas bactérias.

Um superávit populacional da Clostridioides difficile, por exemplo, significa liberação de toxinas que causam diarreia, dor abdominal e febre. Os fatores de risco? Idade acima de 65 anos, hospitalização, sistema imunológico enfraquecido e o histórico do paciente: quanto mais vezes uma pessoa contrai a infecção, maior a chance de sofrer com o quadro novamente. Um em cada seis pacientes com infecção sofre recaída dentro de oito semanas.

A C. difficile recorrente, como é conhecida a condição, pode causar falência de órgãos e levar à morte. Segundo a FDA, é uma das infecções mais comuns nos Estados Unidos dentre aquelas que demandam assistência médica. Todo ano, ela é responsável por 15 mil a 30 mil mortes, e custa US$ 4,8 bilhões para o sistema de saúde americano.

Não existe uma grande oferta de tratamentos para esta doença. Mas acredita-se que a administração de bactérias naturalmente presentes em nosso sistema digestivo pode facilitar a restauração do equilíbrio por lá – e prevenir novos episódios de infecção. É justamente isso que a Vowst promete fazer, impedindo a proliferação da C. difficile.

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Desenvolvida pelas empresas americanas Seres e Flagship Pioneering, a Vowst é a primeira pílula de microbiota intestinal – mas o primeiro produto do tipo, aprovado pela Anvisa americana em dezembro de 2022, é o Rebyota: um líquido administrado via retal em uma única dose, também para prevenir a C. difficile recorrente.

Um tratamento com a Vowst, por outro lado, envolve tomar quatro pílulas uma vez ao dia, durante três dias seguidos. Os pacientes devem usar o remédio dois a quatro dias depois de terminar um tratamento com antibióticos para a C. difficile

As fezes doadas para a confecção das pílulas são previamente examinadas, mas tomar a Vowst ainda traz algum risco de exposição a patógenos e alérgenos alimentares, avisa a FDA. Nos ensaios clínicos, os efeitos colaterais mais comuns foram distensão abdominal, fadiga, constipação, calafrios e diarreia. 

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Em um desses estudos, 89 voluntários diagnosticados com a infecção usaram a pílula; 93 receberam um placebo. Oito semanas após o tratamento, 12,4% dos participantes tratados com Vowst apresentaram recorrência da infecção, contra 39,8% do segundo grupo.

Após a aprovação, a Nestlé Health Science, dona de 6% da Seres, deve comercializar a nova terapia em conjunto nos Estados Unidos e no Canadá. Segundo o jornal Financial Times, a Vowst pode gerar um pico de vendas de US$ 850 milhões por ano nos EUA.

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