O que são os “objetos-G”, encontrados no centro da Via Láctea?
Pesquisadores identificaram mais quatro desses estranhos objetos que se parecem com nuvens de gás, mas se comportam como estrelas.
No centro da Via Láctea, a cerca de 26 mil anos-luz de distância da Terra, há um buraco negro supermassivo batizado de Sagittarius A*, que engole tudo que ousar chegar muito perto. Mas esse monstro galáctico não está sozinho no coração da nossa galáxia — uma série de corpos estranhos, apelidados de “objetos-G”, foram detectados por astrônomos nos últimos anos, e a descoberta de quatro objetos do tipo foi confirmada na última quinta-feira (16), em um estudo publicado na revista Nature.
Mas há um problema. Ninguém sabe ao certo o que os tais objetos realmente são: eles se parecem com nuvens de gás, mas se comportam como estrelas.
O G1, primeiro objeto do tipo, foi descoberto em 2005 e já mostrava características ambíguas. Alguns anos mais tarde, em 2012, uma equipe de astrônomos alemães descobriu o G2, que se mostrou um enigma ainda maior: em 2014, ele se aproximou demais do buraco negro Sagittarius A*, mas ao contrário do que se esperava, o objeto não foi destruído. O G2 sofreu apenas deformações, perdendo sua parte mais externa para o buraco negro e mantendo um remanescente compacto. Esse comportamento parece mais com de uma estrela orbitando o buraco negro do que com de uma nuvem de gás – o que torna sua natureza exata um grande mistério.
Os mais novos quatro objetos-G, com nomes do G3 ao G6, foram identificados pela equipe de Anna Ciurlo, astrônoma da Universidade da Califórnia em Los Angeles. A descoberta acontece após 13 anos de análise de dados sobre o centro da Via Láctea coletados no Observatório W.M. Keck, no Havaí.
Inicialmente, a pesquisadora buscava estudar a influência do Sagittarius A* no gás ao seu redor, mas, no caminho, deu de cara com esses corpos densos e estranhos. Os objetos recém-descobertos parecem compactos na maior parte do tempo, sofrendo leves deformações quando se aproximam do buraco negro – seguindo o padrão de outros já detectados.
Existe, porém, uma diferença importante entre eles: enquanto as órbitas do G1 e do G2 em relação ao centro da Via Láctea são relativamente similares, as dos novos objetos variam significativamente. Isso pode ser um indício que, mesmo pertencendo a um mesmo “grupo”, os objetos podem ter origens – ou ao menos fatores de influência – diferentes.
O mistério continua
Embora ninguém saiba ao certo o que eles são, há alguns bons palpites. Um deles é que os objetos-G sejam o resultado da fusão de estrelas binárias — sistemas formados por duas estrelas que orbitam um centro de massa comum. Segundo a equipe do novo estudo, essas estrelas podem ter se fundido devido à enorme força gravitacional do Sagittarius A*, em um processo que durou milhões de anos e resultou numa única estrela cercada por uma grande camada de gás e poeira. Isso explicaria sua aparência e comportamento conflitantes. Quando esses objetos se aproximam do buraco negro, essa camada externa seria destruída, mas o objeto estelar interno permaneceria intacto.
“Fusões de estrelas podem estar acontecendo no Universo com mais frequência do que pensávamos e, provavelmente, são bastante comuns”, disse Andrea Ghez, professora de astronomia na Universidade da Califórnia em Los Angeles e coautora do novo estudo. “Buracos negros podem estar levando estrelas binárias a se fundirem. É possível que muitas das estrelas que observamos e não conseguimos entender possam ser o produto final dessas fusões.”
Outra hipótese é que os objetos sejam apenas nuvens de gás muito compactadas, formadas pelos eventos extremos que ocorrem com frequência no centro da nossa galáxia, com resistência suficiente para encarar o buraco negro sem ser totalmente destruídas. Uma evidência que parece apoiar essa ideia é a de que, apesar do comportamento aparentemente estelar, nenhuma luz foi detectada nos corpos.
Além dos quatro novos objetos-G, a equipe anunciou que está estudando outros candidatos que podem ser incluídos no grupo. Se confirmados, eles irão oferecer mais oportunidades de observações (e pesquisas) que possam revelar novos detalhes sobre a estranha natureza desses híbridos.