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Pando, o maior organismo do mundo, pode ser o mais velho também

Uma análise genética inédita do álamo de 6 mil toneladas e 42,6 hectares determinou que ele tem algo entre 16 mil e 80 mil anos de idade.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 nov 2024, 16h25 - Publicado em 12 nov 2024, 16h00

Pando é o nome de uma árvore da espécie álamo-trémulo que mora no estado interionano de Utah, nos EUA. Uma não: várias. Para ser mais preciso, Pando consiste em 47 mil álamos com genoma idêntico, interconectados por uma rede labiríntica de raízes que se espalha por 42,6 hectares (o equivalente a 60 campos de futebol).

Na prática, a floresta inteira é um indivíduo só. Isso torna Pando o mais pesado organismo do mundo: estima-se algo como 6 milhões de kg.

Agora, um grupo de pesquisadores dos EUA fez uma análise inédita do DNA de diversas partes do álamo, e esse trabalho recém-divulgado reforça a conclusão de que Pando tem algo entre 16 mil e 80 mil anos de idade – o que também lhe garante uma posição no ranking de seres vivos mais velhos do mundo (quiçá o 1º lugar). 

Isso o torna tão antigo quanto algumas das primeiras ondas migratórias de Homo sapiens que saíram da África para a Eurásia. Para fins de comparação, as obras de arte mais antigas, feitas por neandertais, têm 64 mil anos.

Por enquanto, o artigo científico está disponível apenas no servidor de pré-prints bioRxiv. Isso significa que ele ainda não foi revisado por outros pesquisadores da mesma área nem publicado em um periódico. Mas a história de Pando é tão fascinante que até a Nature, um dos mais respeitados veículos do mundo, não se aguentou e já soltou a notícia (rs).

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Mapa do Pando.
Sim: toda a área verde é Pando. Tudo é Pando. Você, provavelmente, é Pando. (Lance Oditt / Amigos do Pando/Reprodução)

Pando tem uma característica microscópica peculiar: ele é triploide, o que significa que tem três cópias de cada cromossomo em vez de duas. Esse DNA triplicado o impede de fazer sexo com outros álamos, motivo pelo qual ele eternizou seus genes de outros jeito: começou a crescer para os lados.

Pando é tão grande e antigo que mutações genéticas diferentes tiveram tempo de se acumular em cada pedaço dessa vasta árvore. Amostras de extremidades opostas do álamo tem DNAs distintos – é como se seu dedão do pé e a ponta do seu nariz fossem pessoas diferentes. Os pesquisadores identificaram mais de 4 mil variantes genéticas em Pando. 

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Foto do Pando e uma familia de cervos que abita o local.
(Lance Oditt / Amigos do Pando/Reprodução)

As diferenças entre os códigos genéticos de cada parte de Pando, na prática, funcionam para contar seus aniversários. Sabemos de quanto em quanto tempo, em média, as mutações ocorrem e esse cronômetro biológico permite descobrir, ainda que com algum grau de incerteza, há quanto tempo esse álamo notável está se multiplicando.

O dado veio surpreendentemente bagunçado: tudo indica que as árvores não se distribuem por um critério simples de afinidade. Dois troncos muito aparentados podem estar mais distantes entre do que uma outra dupla que tem DNAs bem diferentes, um mistério que estudos futuros poderão elucidar.

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“Você espararia que as árvores espacialmente mais próximas também seriam mais aparentadas geneticamente”, explicou à Nature Rozenn Pineau, um geneticista de populações da Universidade de Chicago em Illinois. “Mas não foi bem isso que descobrimos. Há um sinal espacial, mas ele é mais fraco que o esperado.”

 

 

 

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