Peixes-palhaço podem ser capazes de contar
Novo estudo revela que esses adoráveis seres utilizam a habilidade de contar padrões de listras para proteger seu território de rivais.
Mundialmente famoso pela história de um pai em busca do filho no clássico Procurando Nemo, da Pixar, o peixe-palhaço pode ter apresentado outra habilidade interessante. Além de ser um comediante, o peixinho pode também ser capaz de realizar contas.
De acordo com um novo estudo, publicado no Journal of Experimental Biology, os peixes-palhaço podem ter habilidades rudimentares de matemática ao conseguir contar os padrões de listras de seus companheiros. Com o nome de “Contando Nemo” (rs), a pesquisa mostra que os peixinhos conseguem perceber quando outro peixe possui o mesmo número de linhas brancas que eles, revelando uma inédita capacidade de identificação.
A habilidade de contar não é nova no reino animal. Insetos, anfíbios e outras espécies de peixe conseguem distinguir uma quantidade maior que outra. Essa habilidade normalmente está ligada à busca por alimentos, segurança em grupos ou até acasalamento. Mas, no caso dos peixes-palhaço, essa capacidade pode estar ligada à proteção de território.
Apesar da aparência fofa e inofensiva, e do nome engraçado, os peixes-palhaço estão entre os animais mais agressivos e territorialistas do mundo animal. Eles são tão super protetores, que a mera tentativa de qualquer peixe de se aproximar de sua anêmona, eles atacam e o afugentam para longe – principalmente se forem da mesma espécie.
Mas, com 28 espécies diferentes de peixes-palhaço, os pesquisadores se perguntaram: como eles conseguiam diferenciar uma da outra? Bem, contando o número de listras.
Em 2022, Kina Hayashi, ecóloga marinha do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa e autora da pesquisa, já havia realizado um outro estudo descrevendo o comportamento de proteção do ninho pela identificação do padrão de listras. Na pesquisa de 2022, ela descobriu que os peixes-palhaço costumavam morder e atacar peixes falsos de madeira com padrões iguais aos seus.
No estudo de agora, ela e os demais pesquisadores envolvidos na pesquisa queriam descobrir se de fato os peixes conseguem contar a quantidade de listras de outro peixe. Para isso, Hayashi e sua equipe realizaram dois experimentos diferentes.
Primeiro, eles colocaram 50 indivíduos da espécie peixe-palhaço comum (Amphiprion ocellaris) em aquários individuais. Essa espécie é a mesma do Nemo, o peixe-palhaço clássico com o padrão de três listras brancas.
Depois os pesquisadores inseriram outros peixes-palhaço, separados por uma caixa de vidro transparente dentro do aquário. Mais um do tipo comum e outros três de espécies diferentes. Esses apresentavam padrões de listras variados, indo desde uma única listra, até três.
Os pesquisadores viram então que o comportamento dos peixes “nativos” do tanque era mais agressivo com os indivíduos que possuíam a mesma quantidade de listras que eles.
Para comprovar isso, o segundo experimento consistia em separar 120 peixes-palhaço comuns em grupos de três, e os colocar em aquários separados. Eles conviveram por uma semana, até que os pesquisadores colocaram um quarto integrante. Um peixe feito de resina, pintado com padrões diferentes de uma a três listras.
Os resultados revelaram que os peixes-palhaço atacavam 10 vezes mais os peixes falsos que possuíam três listras do que os que não tinham nenhuma listra. Os que possuíam três listras também eram atacados pelo menos duas vezes mais do que aqueles que tinham duas listras, e 1,3x mais do que aqueles que possuíam só uma.
Um dos questionamentos envolvidos era se os peixes-palhaço de fato conseguiam contar ou se somente identificavam nos outros indivíduos uma predominância da cor branca. Os pesquisadores afirmam que isso é improvável, já que os peixes responderam de forma agressiva a outros padrões de cores durante o experimento.
Para os cientistas, os peixes-palhaço não somente sabem contar, como também utilizam essa habilidade na proteção de seu próprio lar. O próximo passo, agora, é identificar se eles conseguem contar algo que vá além das listras, e se essa habilidade vem de nascença ou é aprendida ao longo do tempo.