Peixes-palhaços diminuem de tamanho para enfrentar ondas de calor
Estratégia inédita foi identificada em novo estudo.

Achar o Nemo pode ser ainda mais difícil do que imaginávamos. Pesquisadores descobriram uma intrigante habilidade de adaptação dos peixes-palhaço (Amphiprion percula): diminuir de tamanho para sobreviver a condições extremas.
O fenômeno do encolhimento foi observado durante uma intensa onda de calor marinha em 2023, na Baía de Kimbe, Papua-Nova Guiné.
No estudo, publicado na revista Science Advances, a equipe monitorou 134 peixes-palhaço ao longo de cinco meses para entender melhor como esses bichos vivem. Por coincidência, uma onda de calor aumentou a temperatura da água em 4°C durante o período em que as pesquisas estavam sendo realizadas.
Foi quando a equipe de pesquisadores notou o encolhimento. No final do período, os registros mostraram que 71% das fêmeas e 79% dos machos diminuíram de tamanho pelo menos uma vez durante a fase de calor intenso. Essa redução não se limitou à perda de peso: envolveu também uma diminuição real no comprimento corporal dos peixes.
Melissa Versteeg, pesquisadora na Escola de Ciências Naturais e Ambientais da Universidade de Newcastle e autora principal do estudo, disse que ela e a equipe ficaram “tão surpresos ao ver o encolhimento desses peixes que, para garantir, medimos cada indivíduo repetidamente ao longo dos cinco meses”.
Segundo o estudo, o encolhimento aumentou as chances dos indivíduos sobreviverem ao evento de estresse por calor em até 78%.
Além disso, a pesquisa revelou que casais reprodutores que encolheram em sincronia tiveram maiores chances de sobrevivência. As fêmeas ajustaram seu tamanho para permanecerem maiores que seus parceiros, como são em condições normais, mantendo assim a hierarquia social essencial para a reprodução nessa espécie.
Theresa Rueger, professora de Ciências Marinhas Tropicais e também autora do estudo, acrescenta: “Se o encolhimento observado for generalizado e ocorrer entre diferentes espécies de peixes, isso poderia fornecer uma hipótese alternativa plausível sobre o motivo pelo qual o tamanho de muitas espécies de peixes está diminuindo. Mais estudos são necessários nessa área”, disse ela em comunicado.
“Ainda não sabemos exatamente como eles fazem isso [encolher], mas sabemos que alguns outros animais também conseguem. Por exemplo, as iguanas marinhas podem reabsorver parte de seu material ósseo para também encolherem em períodos de estresse ambiental”, disse Versteeg.
Embora essa capacidade de encolhimento ofereça uma vantagem adaptativa temporária, os cientistas alertam que a crescente frequência e intensidade das ondas de calor marinhas podem superar a resiliência desses peixes. A degradação dos recifes de coral e a perda de habitat representam ameaças graves à sobrevivência dos peixes-palhaço.
Os peixes-palhaço já são conhecidos por controlar seu próprio crescimento para manter a hierarquia social. Quando a fêmea dominante morre, o maior macho se transforma em fêmea, aumentando de tamanho, e o segundo maior vira seu parceiro reprodutivo. Eles também conseguem acelerar ou frear o crescimento para subir ou se manter na ordem social.
Mas o encolhimento é novidade. Uma explicação possível é que, como eles ajustam seu tamanho ao da anêmona onde vivem, ondas de calor que encolhem as anêmonas também forçam os peixes a se adaptarem. Outra hipótese é que, menores, eles precisem de menos alimento e oxigênio, o que aumenta as chances de sobrevivência em ambientes extremos — um comportamento já observado em iguanas marinhas e salmões jovens diante de condições adversas.