Peixes são capazes de reconhecer rostos e podem ter amigos
Será que a ciência está próxima de descobrir que a amizade entre Nemo e Dory é possível?
Tenho uma amiga que não come carne de gado nem de frango. Para justificar a presença de peixe na dieta, ela brinca: “Peixe não tem alma”. Motivada mais pela dificuldade de passar longe de um prato de ceviche que pela possível transcendentalidade dos peixes, se justifica com a ausência de alma e traquejo social dos peixes. No entanto, se ela soubesse de uma recente descoberta científica que comprovou que eles são capazes de reconhecer rostos, talvez essa conversa depreciativa pró-sushi terminaria. Para o bem dos peixes.
A habilidade de distinguir rostos entre indivíduos da mesma espécie é uma importante característica presente em pássaros, primatas, outros mamíferos e em nós, humanos – apesar de que nem sempre é fácil lembrar quem era aquela pessoa que te parou no supermercado e ficou um tempão conversando.
Pesquisas prévias já desconfiavam que os peixes também fizessem parte desse grupo de animais que conseguem diferenciar seus semelhantes pela aparência, mas faltavam provas. Agora, um estudo recente realizado pela Universidade de Osaka, no Japão, descobriu que uma espécie de ciclídeos (família de peixes de água doce muito comum no Brasil e na América Latina), consegue fazer reconhecimento facial e, com isso, rastrear estranhos por perto.
O peixes analisado foi o Julidochromis transcriptus que vive entre as pedras do Lago Tanganyka, na África. Por estar sempre com alguma parte escondida na vegetação, a equipe liderada por Takashi Hotta quis saber a qual região do corpo ele demonstraria mais atenção, caso fosse estimulado. Se o peixe usasse apenas a face para reconhecer os outros, isso seria um indício de que o rosto é um local importante para a interação entre eles.
Para isso, a equipe de Hotta isolou oito machos adultos do grupo que estavam familiarizados e os colocou em um tanque. Lá, eles foram expostos a um monitor com reproduções digitais que apresentam características físicas e faciais de peixes “conhecidos” e “desconhecidos”. Os animais passaram mais tempo seguindo os rostos desconhecidos que os conhecidos – o que comprova a capacidade de distinguir as feições familiares daquelas desconhecidas e potencialmente ameaçadoras.
Apesar dos peixes serem sido vistos como animais pouco complexos, as conclusões dessa pesquisa japonesa podem abrir precedentes para descobertas que comprovem outros comportamentos que exigem habilidades cognitivas mais desenvolvidas.
Será este o início das comprovações de que as amizades de Procurando Nemo podem ser cientificamente possíveis ou apenas o fim dos peixes no prato de quem subestima a inteligência deles?