Por que lâminas de barbear perdem o fio tão rápido?
Pelos faciais são 50 vezes menos resistentes do que o aço de sua gilete. Mesmo assim, ela fica "cega" em pouco tempo. A ciência já sabe por quê.
Qualquer barbeador descartável, por mais simples que seja, desliza pelo rosto com facilidade. O problema é que essa maciez costuma valer apenas na estreia: basta alguns usos para que suas lâminas comecem a irritar a pele – e, não raramente, causar cortezinhos incômodos.
Repetir a gilete pela quinta ou sexta vez é uma tarefa praticamente impossível: as lâminas, de tão cegas, se recusam a prestar o serviço com qualidade minimamente aceitável. Aí, das duas uma: ou você antecipa sua próxima ida ao mercado ou acaba se conformando em adotar o visual “lenhador” por mais tempo. Isso se não quiser terminar com o rosto retalhado, claro.
Os fios de sua barba são 50 vezes mais macios que o aço usado na gilete. Essa diferença de dureza, no entanto, não impede que ela fique completamente “cega” em pouco tempo. Mas por que isso acontece?
Foi o que um novo estudo, feito por pesquisadores do MIT e publicado na revista Science tentou desvendar. Spoiler: tem a ver com o material de que a lâmina é feita – mas também com a forma como você faz a barba.
A equipe de cientistas analisou a cena com a ajuda de um microscópio eletrônico de varredura. O equipamento consegue oferecer imagens de alta resolução mesmo de objetos minúsculos – como um fio de barba sendo raspado por lâminas afiadas de aço inoxidável, por exemplo. Você pode ter uma ideia desse processo de poda, em câmera lenta, no gif abaixo.
Why do the edges of a steel razor dull from cutting far softer materials?
The micromechanical conditions that lead to this phenomenon have been revealed through a series of “realistic shaving” experiments. Read more in Science: ($) https://t.co/qdg6ohAuD6 pic.twitter.com/PGOBr41wkO
— Science Magazine (@ScienceMagazine) August 6, 2020
O passo seguinte foi observar, de pertinho, o comportamento do metal de que são feitas as lâminas do barbeador. Aí que estava o pulo do gato: os danos que o ato de barbear provoca não fazem, simplesmente, com que as lâminas percam o fio – como se deixassem de estar amoladas. Na verdade, o contato com os pelos faciais causa pequenas erosões no metal – com 1 décimo da espessura de um fio de cabelo –, que vão se acumulando com o tempo.
É como se fossem mini terremotos, que vão causando fraturas sutis no solo. Com o tempo, elas se juntam e causam um estrago maior do que a encomenda. Conforme as primeiras rachaduras aparecem, a lâmina fica mais vulnerável: na próxima vez que você for se livrar da barba, as novas rachaduras vão se acumular ao redor das antigas. Isso aumenta o buraco na área e torna o barbeador “cego” mais rapidamente. É um comportamento diferente do que os cientistas imaginavam.
O formato de seu rosto – e a direção em que crescem os pelos – nunca muda. Por isso, a angulação e a direção da força que você aplica durante a tosa tendem a ser mais ou menos a mesma. Assim, certas áreas da lâmina – as que você usa mais – acabam sempre ficando sobrecarregadas, e perdem o fio primeiro. Isso faz com que o barbeador inteiro vá parar no lixo mais cedo do que deveria. E nem adianta tentar revezar o aparelho e ficar mudando a angulação das lâminas na tentativa de fazê-las durar mais tempo. O padrão em que as rachaduras aparecem no instrumento é aleatório.
A ideia é que, a partir disso, a ciência consiga explorar esses padrões de fratura do metal para desenvolver lâminas mais potentes – e, principalmente, com uma vida útil maior. É como diz o ditado. Água mole em pedra dura, de tanto bater, uma hora fura. Contanto que o furo não aconteça no seu pescoço ou bochecha, tudo certo.