Primeiras amostras do “lado oculto da Lua” revelam um passado vulcânico
Há bilhões de anos, lava jorrava no hemisfério obscuro do satélite, concluíram estudos que analisaram pedaços do solo lunar coletados pela missão Chang’e 6.
O lado “oculto” da Lua já não parece tão misterioso assim.
Cientistas analisaram as primeiras amostras do solo desse pedaço do nosso satélite natural – e concluíram que vulcões ativos jorravam lava nesse lado do astro há bilhões de anos.
Em junho, a sonda chinesa Chang’e 6 pousou no lado obscuro da Lua, com um objetivo ousado: coletar as primeiras amostras de rochas do local e trazer de volta para a Terra. Deu certo: em 25 de junho, os humanos colocaram as mãos, pela primeira vez na história, nos pedacinhos da face oculta do satélite. No total, quase dois quilos de solo lunar foram coletados da bacia do Polo Sul – Aitken, uma enorme cratera formada quando um meteoro colidiu com a Lua há cerca de quatro bilhões de anos.
Agora, pesquisadores chineses divulgaram as primeiras descobertas feitas com base no material. As equipes encontraram evidências de vulcões ativos na Lua que duraram por um longo período: as pistas mais antigas são de 4,2 bilhões de anos atrás; as mais recentes, de 2,8 bilhões de anos. As conclusões são de dois estudos distintos publicados nas revistas Science e Nature.
Já sabíamos, é claro, que o lado próximo da Lua – aquele que você vê quando olha para o céu a noite – tinha um histórico de vulcanismo, mas o outro hemisfério do satélite é bem distinto, inclusive na sua geologia, e só agora temos provas de vulcões ativos em seu passado.
A análise revelou fragmentos de basalto, uma rocha vulcânica que se forma após erupções, entre as amostras. Usando datação radiométrica, os cientistas da Academia Chinesa de Ciências conseguiram determinar a idade da formação das rochas.
A conclusão de que houve erupções há 2,83 bilhões de anos surpreendeu: na escala de tempo lunar, elas são consideradas extremamente recentes. Não há evidências de vulcanismo tão recente assim no lado visível da Lua, por exemplo.
Um dos estudos encontrou poeira resultante de vulcanismo datando de 4,2 bilhões de anos atrás, revelando que esse período vulcânico durou bastante tempo no lado escuro do satélite.
A Lua tem um chamado “lado oculto” ou “lado escuro” por conta de um fenômeno conhecido como rotação sincronizada: a duração de seu período orbital ao redor da Terra é a mesma da duração de seu período de rotação em torno do seu próprio eixo. Isso faz com que, na prática, sempre vejamos o mesmo lado da Lua, não importa a época do ano. Veja no gif abaixo:
Além de nunca ser observado diretamente, o lado “oculto” também é pouco estudado. A maior parte do que sabemos vem de dados coletados à distância por satélites. Em 2019, a China foi a primeira a pousar nesse misterioso ambiente, com a sonda Chang’e 4. A missão, no entanto, não trouxe para a Terra amostras.
Agora, a análise das amostras coletadas pela Chang’e 5 começa a desvendar o passado misterioso desse lado oculto.