Qual a diferença entre rio e riacho? E entre lago, lagoa e laguna?
O Guaíba, no Rio Grande do Sul, tem características tanto de um lago como de um rio. Entenda por quê – e confira um pequeno glossário de termos hídricos.
Rio ou lago? As enchentes no Rio Grande do Sul trouxeram à tona uma dúvida que há décadas intriga especialistas e moradores do estado: qual é a definição correta do Guaíba, o corpo hídrico da região de Porto Alegre cujos níveis, graças às chuvas, chegaram próximo do recorde histórico de 5,3, metros de altura?
(Até então, a cheia mais destruidora da região havia sido em 1941, quando os níveis bateram 4,76 metros.)
As autoridades gaúchas definem o Guaíba como um lago. E, de fato, há diversos argumentos para tal, como sua extensão (496 quilômetros quadrados, cerca de 225 Lagoas Rodrigo de Freitas) e seus contornos (que possuem pontas, enseadas e mata de restinga, incomuns para um rio).
Mas o Guaíba também possui características de rio, como correntezas e um canal em seu centro – que possibilita, aliás, uma via de navegação. Essa natureza híbrida é única no mundo. “Classificar o Guaíba como rio ou como lago sempre será insuficiente”, diz o professor André Luiz Lopes da Silveira, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A questão do Guaíba levanta também outras: afinal, qual a diferença entre as vários nomenclaturas de corpos hídricos, como rios, lagos, lagunas, mares e estuários? E o que dizer de baías, golfos e arroios?
Abaixo, você confere um pequeno glossário de termos hídricos, montado com a ajuda da Dra. Yara Schaeffer-Novelli, professora sênior do Instituto de Oceanografia da USP.
Rios e riachos
Um rio é uma corrente natural (e contínua) de água. Pode desembocar em um lago, no mar ou em outro rio. Nesse último caso, recebe também o nome de afluente (o rio Amazonas, por exemplo, tem mais de mil afluentes).
Cada rio possui um caudal, ou seja, uma vazão: quantidade de água que flui durante um determinado tempo, medida em metros cúbicos por segundo (m3/s) ou litros por segundo (L/s). O caudal, claro, pode variar ao longo do ano.
Riachos nada mais são que rios pequenos, geralmente com águas rasas e um fluxo suave. “Córrego” e “arroio” são sinônimos. “O termo ‘arroio’ é frequentemente usado no sul do Brasil”, diz Yara. “Refere-se a um curso de água maior que um ‘regato’ e menor do que uma ‘ribeira’.”
Lago, lagoa e laguna
A definição de “lago” é um tanto abrangente. Consiste em um corpo de água (doce ou salgada) total ou parcialmente circundado por terra. Pode ficar na costa ou dentro do continente. Lagoas, por sua vez, são lagos menores, formados exclusivamente por água doce.
Laguna é um corpo com águas rasas e calmas, conectado ao mar. Por conta disso, suas águas podem ser desde doces até bem salgadas. É comum que seja formado a partir de uma ilha, que funciona como uma barreira entre o oceano e a laguna.
Segundo essas definições, a gaúcha Lagoa dos Patos (imagem acima), onde deságua o Guaíba, é, na verdade, uma laguna (a maior de toda a América do Sul, diga-se). Nesse caso, não é uma ilha que atua como barreira com o oceano, e sim uma península (um pedaço do continente que se destaca na costa, rodeado por água). Contudo, ela é chamada popularmente por “lagoa”, provando que, às vezes, a tradição se sobressai ante termos técnicos.
Baía, golfo e estuário
Golfo é uma extensão de água do mar cercada, em partes, por terra firme. Uma baía tem essa mesma definição, porém é menor e com uma abertura mais estreita pro mar.
Já estuários são aquelas áreas onde a água doce encontra a água do mar – e, por causa disso, há um gradiente no nível de salinidade. Estuários sofrem influência das marés.
Golfos, baías e lagunas (como a Lagoa dos Patos) têm estuários na zona limítrofe com o oceano. Rios também podem ter os seus, caso deságuem no mar.
Mar e oceano
Talvez seja chover no molhado definir o que é um oceano, mas lá vai: um grande corpo de água salgada, que compõe dois terços da superfície do planeta e 97% de toda a nossa água.
Não há uma divisão 100% exata dos limites do Atlântico, Índico e Pacífico, diga-se. “Hoje, a tendência é a de se considerar que há apenas um único oceano, mas mantendo ainda os seus diferentes nomes”, explica Yara.
Já os mares são porções do oceano cercadas por terra. Se a conexão com o oceano é pequena, diz-se que é um mar interior, caso do Mediterrâneo. Quando o cerco às águas não é tão forte assim (os limites podem ser ilhas, linhas costeiras, etc.), então o mar recebe a classificação de marginal, como o Mar do Japão e o Mar do Norte.
E o Mar Morto? Apesar do nome, ele na verdade é um lago hipersalino. Ele é alimentado pelo Rio Jordão, de água doce – mas, devido ao clima árido, a região sofre com muita evaporação. A água vai, porém os minerais e sais dissolvidos ficam.