Reabertura de bares faz crescer casos de Covid-19 na Coreia do Sul
Com apenas 256 mortes pelo novo coronavírus, país asiático teme "segunda onda" de contágio após afrouxar restrições.
Apesar da proximidade geográfica com a China, epicentro inicial do novo coronavírus, a Coreia do Sul se tornou símbolo de eficiência na contenção da pandemia de Covid-19, que já fez 4 milhões de casos no mundo todo. Segundo um levantamento da Universidade Johns Hopkins, o país tem até agora menos de 11 mil casos confirmados. Desses, foram apenas 256 mortes – marca que é superada diariamente pelo Brasil, e vários outros países.
Esses números muito abaixo da média são resultado de um esquema de controle ferrenho. Em redes sociais, é possível encontrar inúmeros relatos de turistas que, após chegarem à Coreia do Sul, precisaram passar duas semanas confinados em hotéis. Durante a estadia, bancada pelo governo sul-coreano, os recém-chegados não podiam deixar seus aposentos, e tinham sua temperatura aferida duas vezes ao dia.
Outro ponto foi o número de testes: a escolha da Coreia do Sul por testar maciçamente sua população evitou que o país entrasse em lockdown – solução usada pela vizinha China. Entre a metade de fevereiro e a segunda quinzena de março de 2020, o país figurava como líder mundial em casos testados. Foram 660 mil ao todo, o que torna a Coreia do Sul top 5 do ranking em número de testes. Logo de cara, já era possível ser examinado para Covid-19 via drive thru e receber o resultado do teste no celular.
Após “achatar a curva” de contaminação e manter o novo coronavírus sob aparente controle, o país, agora, se preocupa com uma nova crescente no número de casos. O motivo? O funcionamento de bares e boates, que voltaram a abrir as portas nas últimas semanas. Segundo o governo local, eles podem ter sido palco para a contaminação recente de milhares de sul-coreanos.
Essa possível segunda onda de casos veio a público no último domingo, após 35 novas infecções serem confirmados. É o maior número em mais de um mês. Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul falam em 69 casos nas últimas 48 horas – o mesmo ao observado no país ao longo da última semana. Como destaca esta reportagem da agência de notícias Reuters, ao menos 29 dos 35 casos estão ligados a boates da capital Seul. Acredita-se que as novas infecções tenham sido causadas por um paciente de 29 anos, que teria frequentado 3 boates da região antes de testar positivo para a doença.
Autoridades locais declararam ter testado mais de 2,450 pessoas nos arredores de Itaewon, bairro de Sul conhecido por sua vida noturna. Cerca de 86 casos positivos teriam ligação com a área – seja frequentando ou trabalhando em bares, boates e restaurantes da região. Segundo o jornal New York Times, epidemiologistas sul-coreanos acompanham 1,500 pessoas que passaram por esses locais nas últimas semanas. Como resultado do aumento, a prefeitura de Seul ordenou o fechamento preventivo de estabelecimentos do tipo.
O aumento repentino coincide com o início da normalização das atividades do país, que planejava permitir a reabertura de serviços como comércio e escolas. Por causa da ameaça do novo pico, o retorno às aulas foi adiado em uma semana.
A experiência da Coreia do Sul – e de países como a Alemanha e a própria China – demonstram que o retorno à vida normal passará por um aumento no número de casos. A retomada do funcionamento de locais com grande circulação de pessoas, afinal, cria a situação perfeita para novas contaminações. Além de resquícios do vírus permanecerem mais tempo do que se imaginava em superfícies, basta uma única pessoa infectada para que todos ali – bem como suas famílias, colegas de trabalho e vizinhos – tenham seu risco aumentado.
Sexto no ranking mundial em número de casos de Covid-19, o Brasil acumula exemplos que provam que afrouxar as rédeas antes da hora e deixar pode aumentar o problema. A abertura recente do comércio de Blumenau, em Santa Catarina, por exemplo, fez o total de casos da cidade aumentar em 173%. Das 163 mil pessoas infectadas no país, 11 mil morreram – e os números não devem parar de crescer tão cedo.