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Reconstrução digital mostra como feixe de prótons atravessou cérebro de físico soviético

Em 1978, Anatoli Bugorski sobreviveu a um acidente em um dos maiores aceleradores de partículas da época. Veja como.

Por Luiza Lopes
Atualizado em 4 set 2025, 17h56 - Publicado em 4 set 2025, 16h00

Em 1967, entrou em operação em Protvino, na União Soviética, o acelerador de partículas U-70. Considerado o mais potente do mundo na época, ele era capaz de acelerar prótons a velocidades próximas à da luz.

Onze anos depois, em 13 de julho de 1978, o físico Anatoli Bugorski, então com 36 anos, passou por um acidente quase fatal enquanto trabalhava no equipamento. 

O U-70 havia parado de funcionar, e Bugorski entrou no túnel para inspecionar o defeito, acreditando estar protegido pelos mecanismos de segurança que impediam a emissão de partículas com o sistema aberto. Esses dispositivos, no entanto, falharam.

Um feixe de prótons atravessou sua cabeça, entrando pela parte de trás e saindo pela narina esquerda, expondo-o a uma dose de radiação 200 a 300 vezes superior ao limite considerado letal sem tratamento. Bugorski descreveu o episódio como um clarão “mais brilhante do que mil sóis”. 

Apesar das sequelas graves – paralisia facial do lado esquerdo, perda total da audição no ouvido esquerdo, convulsões recorrentes e fadiga mental –, ele sobreviveu, concluiu o doutorado e continuou trabalhando como físico nuclear.

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Décadas depois, o designer 3D brasileiro Cícero Moraes, em parceria com a fisioterapeuta Lis Moura, decidiu aplicar técnicas de reconstrução digital para entender melhor o que ocorreu com Bugorski. 

O trabalho, divulgado on-line e ainda não revisado por pares, enfrentou uma limitação importante: não havia registros médicos detalhados, apenas uma fotografia e relatos jornalísticos.

“O caso de Bugorski é único e surpreendeu-nos a ausência de artigos acadêmicos sobre o tema, havendo apenas notícias que o abordavam sem aprofundamento. Identificamos nisso uma espécie de ‘chamado técnico’ para elaborar o manuscrito”, afirma Cícero à Super.

A dupla discutiu hipóteses sobre o trajeto do feixe, consultou literatura sobre anatomia, lesões ósseas e cerebrais e confrontou fragmentos de diagnósticos com o histórico do caso, buscando reconstruir de forma consistente a trajetória provável do feixe. 

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Para isso, utilizaram softwares de código aberto, como o OrtogOnBlender XP, desenvolvido por Moraes, e tomografias de “doadores virtuais” – imagens de cérebros digitalizados que permitem simular anatomias humanas.

O resultado contrasta com uma imagem clássica do caso, que sugeria que o feixe havia atravessado o cérebro quase pelo centro. A nova análise indica que o trajeto foi mais lateral, passando pelo ouvido interno e pelo lobo temporal esquerdo. 

Reconstrução digital do cérebro do físico Anatoli Bugorski.
(Cícero Moraes/Divulgação)

“Apesar disso, o impacto foi extremamente preocupante, comprometendo o cérebro e causando a perda completa da audição no ouvido esquerdo, paralisia facial e, possivelmente, quadros posteriores de epilepsia e convulsões”, diz Moraes.

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A reconstrução ajuda a explicar as sequelas observadas ao longo da vida de Bugorski: a epilepsia pode estar ligada à lesão no lobo temporal, a surdez à destruição do labirinto ósseo e do ouvido interno, e a paralisia facial a danos nos nervos facial e infraorbital.

Reconstrução digital do cérebro do físico Anatoli Bugorski.
(Cícero Moraes/Divulgação)

Outro ponto relevante é a resiliência do cérebro de Bugorski: tirando as sequelas já citadas, o físico não teve outros grandes problemas, mesmo com um dano importante ao órgão. Para Moraes, a plasticidade cerebral foi determinante. 

“Como não encontramos relatos diretamente comparáveis, baseamo-nos em estudos sobre neuroplasticidade de outros casos, como acidentes e tumores. A literatura consultada evidencia que o cérebro frequentemente se adapta para contornar ausências estruturais, reconfigurando-se e recuperando funções, ainda que não completamente.”

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O estudo não substitui a ausência de documentos médicos originais, ainda protegidos pelo sigilo da era soviética, mas oferece material educativo e científico. Moraes avalia que “trata-se de um exemplo de como novas tecnologias podem contribuir para a análise de casos passados, fornecendo uma base de estudo para futuras pesquisas em anatomia e radiobiologia.”

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