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Chuvas extremas fazem Saara ficar verde – e isso é uma má notícia

Mudanças no padrão climático causaram inundações e mortes na região, e situação só tende a piorar com aquecimento global.

Por Manuela Mourão
26 set 2024, 19h00

Quilômetros e quilômetros de areia, quase como o cenário de Duna. No imaginário popular, o deserto do Saara é praticamente sinônimo de seca. Contudo, com uma nova onda de chuvas intensas na região, o local está ganhando lagos e uma nova vegetação – e isso não é uma boa notícia. 

Nas últimas semanas, imagens de satélites vêm registrando o aparecimento de áreas verdes ao sul do Saara, em regiões que são normalmente áridas. Esse surgimento é consequência da mudança na rota de tempestades, que não só fez a areia florescer como também causou grandes inundações em cidades próximas. 

Antes das chuvas

Imagem de satélite do deserto do Saara.
Deserto do Saara em 14 de agosto de 2024 (NASA/Reprodução)

Depois das chuvas

Imagem de satélite do deserto do Saara.
Mesmo local, em 10 de setembro de 2024 (NASA/Reprodução)

Não é incomum que a vegetação do Saara brote rapidamente após uma intensa chuva. Historicamente, entre 11.000 e 5.000 anos atrás, o Saara era uma vasta área coberta por vegetação e lagos, conforme relatado nesse estudo de 2012. Por isso, quando regiões áridas dessa parte da África recebem grandes quantidades de água, a flora reage quase instantaneamente. Esse verdeamento é temporário, e logo tudo volta ao normal.

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O continente africano é cortado pela Zona de Convergência Intertropical (ITCZ, na sigla em inglês), uma região que circula a Terra, pertinho da linha do Equador. É lá que os ventos vindos dos Hemisférios Norte e Sul do globo se encontram, resultando em chuvas, tempestades e bastante umidade. O foco dos fenômenos depende de onde é verão, logo, de julho a setembro as tempestades acontecem ao norte da Zona, e de dezembro a março no sul.  

A chuva não é o problema. O x da questão está nas movimentações recentes da ITCZ – que têm sido atípicas. Segundo os dados de monitoramento do Centro de Previsões Hidrometeorológicas, desde julho as chuvas têm se deslocado muito mais do que o esperado em direção ao hemisfério norte, atingindo áreas ao sul do Saara, como o Níger, Chade, Sudão e até o norte da Líbia, lugares que receberam mais de 400% de tempestades que o normal. Por consequência, alguns lugares do deserto chegaram a registrar níveis de umidade até seis vezes maiores do que deveriam.

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Por que está chovendo tanto?

As oscilações ainda não tem explicações totalmente concretas, mas existem hipóteses. Uma delas é que seria culpa da transição do El Niño – fenômeno que esquenta as águas do Pacífico e leva maiores secas no oeste e centro da África – para a La Niña, que funciona de maneira oposta ao irmão. Outra culpada seria as mudanças climáticas, como a alteração de temperatura entre os hemisférios, vindo do intenso calor no Oceano Atlântico Norte, que quando se encontram resultam em mais chuva. 

Um estudo publicado na Nature em junho previu que esse novo caminho da ITCZ, cobrindo áreas mais para norte do globo, seria mais frequente nas próximas décadas, à medida que o aquecimento global se intensifica.

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Qual o problema de tanta chuva?

A mudança climática não apenas transforma desertos em áreas verdes, mas também altera o padrão da temporada de furacões no Atlântico, trazendo sérias consequências para diversos países africanos. À medida que o planeta aquece, a capacidade de retenção de umidade aumenta, o que pode resultar em tempestades mais intensas e enchentes devastadoras, como as que foram observadas nesta temporada.

De acordo com a Nasa, a maior parte da chuva ocorreu em regiões pouco habitadas. Contudo, surgiram relatos de inundações repentinas em vilarejos do Marrocos, resultando em danos a estradas e interrupções no fornecimento de eletricidade e água. O Programa Alimentar Mundial da ONU estima que essas inundações impactaram mais de quatro milhões de pessoas em 14 países.

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No Chade, por exemplo (cuja porção norte é formada pelo Saara), o esperado é que caiam no máximo dois centímetros de chuva no período de verão, mas este ano já foram registrados até 20 centímetros. O resultado foi catastrófico: 1,5 milhões de pessoas passaram por enchentes intensas, e 340 pessoas morreram. O país vizinho, a Nigéria, também perdeu 220 pessoas e deixou centenas sem casa. Assim como o Sudão, que registrou um alto número de mortes e mais de 12.000 casas destruídas.

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