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Sapos pretos mostram a seleção natural em ação em Chernobyl

Depois do desastre, as rãs mais escuras foram favorecidas - e agora compõem a maioria da população da área. Veja por que.

Por Leo Caparroz
Atualizado em 3 out 2022, 16h22 - Publicado em 30 set 2022, 17h49

Na madrugada de 26 de abril de 1986, o reator 4 da usina nuclear de Chernobyl explodiu, o que é lembrado até hoje como o maior acidente nuclear da história. A região permanece inabitada, com níveis de radiação ainda anormais, mesmo passados mais de 35 anos do desastre.

A exposição a altas doses de radiação teve consequências severas não só para as pessoas da região – muitas morreram ou desenvolveram problemas graves de saúde para o resto da vida – mas também para o meio ambiente. Entre fauna e flora contaminada e devastada pela radiação, alguns cientistas se dedicam a pesquisar como esses organismos se adaptaram para continuar vivendo na zona.

Pesquisadores identificaram na região, em 2016, a presença de rãs Hyla orientalis um pouco diferentes. Em vez do verde brilhante costumeiro para a espécie, aquelas rãs tinham uma cor preta incomum. Agora, a dupla de cientistas publicou um estudo, em que descreve como a pigmentação dessas pererecas reflete a ação da seleção natural.

Depois de encontrar os primeiros animais, eles decidiram se aprofundar no papel da melanina na vida selvagem de Chernobyl. Entre 2017 e 2019, examinaram em detalhes as cores de mais de 200 rãs machos, capturadas em 12 diferentes áreas do norte da Ucrânia. Esses pontos estavam distribuídos ao longo de um amplo gradiente de contaminação, incluindo, claro, algumas das áreas mais radioativas do planeta – mas os pesquisadores também usaram quatro locais de fora da Zona de Exclusão de Chernobyl como grupo de controle.

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Melanina é a substância responsável pela cor escura de muitos organismos – inclusive as variações de tons de pele em humanos. Outra função importantíssima dela é reduzir os efeitos negativos da radiação ultravioleta. Estudos anteriores mostraram que, além dos raios UV, a melanina também pode atenuar os efeitos da radiação ionizante – o tipo de radiação que tem energia suficiente para tirar um elétron de um átomo ou molécula, e causar mutações genéticas.

A melanina absorve e dissipa parte da energia dessa radiação, e pode eliminar e neutralizar moléculas ionizadas que já estejam dentro das células graças às suas propriedades antioxidantes. Esses mecanismos tornam menos provável que indivíduos expostos à radiação sofram danos celulares, o que aumenta suas chances de sobrevivência.

A análise dos pesquisadores revelou que os sapos de Chernobyl tinham uma coloração muito mais próxima do preto do que aqueles capturados fora da área. No geral, as que viviam dentro da Zona de Exclusão eram percebidas com peles 43,6% mais escuras, em média, do que as rãs estrangeiras.

Gradação de tonalidades em sapos de Chernobyl.
As rãs das áreas mais próximas à usina eram consideravelmente mais escuras do que as do grupo controle. (Germán Orizaola/Pablo Burraco/Creative Commons)

Esta coloração não está relacionada com os níveis de radiação que as rãs experimentam atualmente. Os cientistas apontam que a cor escura é proveniente de rãs que estavam dentro ou perto das áreas mais contaminadas na ocasião do acidente.

“Os resultados do nosso estudo sugerem que as rãs de Chernobyl podem ter sofrido uma rápida evolução em resposta à radiação. Nesse cenário, aquelas rãs com coloração mais escura no momento do acidente, que normalmente representam uma minoria em suas populações, teriam sido favorecidas pela ação protetora da melanina,” escrevem para o site de divulgação científica The Conversation.

É exatamente assim que funciona a seleção natural: mais aptos a sobreviver à radiação, os sapos mais escuros se reproduziram com mais sucesso e passaram seus genes para frente. Mais de dez gerações se passaram desde o acidente e esse rápido processo evolutivo pode explicar o motivo dos sapos escuros, antes uma minoria, serem agora o tipo dominante na Zona de Exclusão de Chernobyl.

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