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Sputnik, Laika e Gagarin

Em apenas quatro anos, a União Soviética lançara o primeiro satélite, primeiro animal e primeiro humano ao espaço. Perdendo feio, os americanos se viram obrigados a mirar mais alto: a Lua.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 30 jul 2019, 19h13 - Publicado em 29 jul 2019, 13h49

Quatro de outubro de 1957 foi o dia em que a humanidade acordou para o espaço. Pela primeira vez, a Terra tinha um astro companheiro em órbita de si que não era produto direto da natureza – um satélite artificial. O lançamento do Sputnik, conduzido pela antiga União Soviética, deu início à chamada corrida espacial. Ninguém sabia direito o que estava por vir, é verdade. Tanto que, na edição do dia seguinte do Pravda, o jornal oficial soviético, nem foi a manchete principal: só saiu no pé da primeira página.

Nem mesmo o premiê soviético, Nikita Kruschev, se tocou da importância do negócio. Mais tarde, ele relembraria o episódio assim: “Quando o satélite foi lançado, eles me telefonaram dizendo que o foguete tinha tomado o curso correto e que o satélite já estava girando em torno da Terra. Eu parabenizei o grupo de engenheiros e técnicos nesse feito impressionante e calmamente fui para a cama.”

Nos EUA, contudo, a reação foi muito diferente. O jornal The New York Times da mesma data estampou o lançamento com uma manchete de três linhas em letras garrafais: Soviéticos disparam satélite terrestre para o espaço; está circulando o globo a 18 mil milhas por hora; esfera é rastreada em quatro passagens sobre os EUA.

A reação foi de choque, no que ficou conhecido como “efeito Sputnik”. Pela primeira vez, desde o início da Guerra Fria, os americanos se sentiam em inferioridade tecnológica (e militar) comparados aos soviéticos.

Diante de tamanha comoção, o grupo de engenheiros e cientistas liderado por Sergei Korolev, o pai do programa espacial russo, não perdeu o timing. Menos de um mês depois, em 3 de novembro daquele ano, voaria o Sputnik 2, transportando a bordo a cachorrinha Laika – era a sinalização de que a União Soviética pretendia levar humanos ao espaço. E, de lá, poderia sobrevoar os Estados Unidos quanto quisesse. Sem falar que foguetes capazes de colocar espaçonaves em órbita também poderiam transportar com facilidade bombas nucleares até o outro lado do mundo, sem grande demora ou impedimento.

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A cadela Laika, que voou no satélite Sputnik 2. (Sovfoto/Getty Images)

O governo americano precisava responder. Por ordem do presidente Dwight Eisenhower, o programa de satélites foi acelerado, e a primeira tentativa de responder ao Sputnik veio em 6 de dezembro de 1957. Diante das câmeras, o foguete Vanguard subiu por apenas dois segundos antes de despencar e explodir sobre a plataforma. Papelão.

E o que você faz quando seu foguete falha? Chama o Meirelles? Não, chama o Von Braun. Werhner von Braun, criador dos foguetes V-2 que bombardearam Londres para a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra, havia sido trazido aos Estados Unidos e “desnazificado” pela Operação Clipe de Papel, junto com muitos outros cientistas importantes, e estava trabalhando na Agência de Mísseis Balísticos do Exército em Huntsville, Alabama. Ele preparou às pressas uma nova tentativa de lançamento, com seu novo foguete Jupiter-C, e em 31 de janeiro de 1958, partindo de Cabo Canaveral, o satélite americano Explorer 1 atingia sua órbita. Sob o governo Einsenhower, em 29 de julho de 1958, era fundada a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço – hoje todo mundo só chama de Nasa. Sua principal missão: responder à União Soviética e preparar astronautas americanos para seus primeiros voos espaciais.

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Apesar da dianteira soviética, o satélite americano Explorer 1 foi o primeiro a detectar os cinturões de radiação que existem ao redor da Terra.

O preço político de sair atrás na corrida espacial foi alto. Em 1960, os republicanos perderam a eleição para um jovem senador democrata de Massachusetts, John F. Kennedy, sob o argumento de que havia um atraso inaceitável na tecnologia americana de mísseis.

A União Soviética, contudo, manteria a dianteira. Em 12 de abril de 1961, antes que qualquer americano atingisse o espaço, o piloto russo Yuri Gagarin, nascido numa fazenda comunal nos arredores de Moscou, completaria uma órbita ao redor da Terra a bordo da nave Vostok 1, tornando-se o primeiro humano a deixar seu planeta de origem – ainda que por pouco mais de uma hora e meia.

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Yuri Gagarin, o primeiro humano no espaço. (SAS/Getty Images)

Kennedy então chamou ao pé do ouvido o administrador da Nasa, James Webb, e perguntou: qual meta seria tão difícil que teríamos chance de chegarmos primeiro que os russos? A resposta você pode imaginar qual foi. Estava aberta a corrida para a Lua.

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