Variante Lambda: o que sabemos sobre ela até agora?
A nova cepa do coronavírus surgiu no final de 2020 e, desde então, tem se espalhado pela América do Sul. Saiba quais os possíveis riscos que ela oferece – e se as vacinas atuais podem nos proteger.
Enquanto o mundo observa o avanço da variante Delta do Sars-CoV-2, o vírus da Covid-19, uma outra variante, a Lambda, também tem chamado a atenção. Detectada pela primeira vez no Peru, em dezembro do ano passado, ela é responsável, hoje, por 80% dos casos da doença por lá – além de ter se espalhado para outros 30 países.
Atualmente, a variante Lambda preocupa especialistas e autoridades, principalmente em territórios da América do Sul – e uma série de estudos tem sido feita para descobrir mais detalhes sobre a nova cepa – e o que esperar dela.
Antes de tudo, é importante entender que a existência de variantes é algo comum, pois os vírus acumulam mutações genéticas conforme são transmitidos e se replicam. Isso faz parte da evolução natural do vírus. O problema é que, à medida que isso acontece, podem surgir cepas perigosas e preocupantes. Uma variante do coronavírus que resistisse às vacinas, por exemplo, poderia atrasar em meses (ou anos) o fim da pandemia.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a Lambda como uma “variante de interesse” – VOI, na sigla em inglês. Essa é uma categoria inferior à de “variante de preocupação”, que abrange as variantes Alfa, Beta, Gama e Delta.
A Lambda tem algumas mutações na proteína de espícula, que permite que o Sars-CoV-2 penetre nas células hospedeiras e causem a infecção – são os “espinhos” em volta do coronavírus. Há mutações também em outras partes de seu genoma, que podem esconder “fatores de virulência”, capazes de aumentar a gravidade da Covid-19, por exemplo.
É por essa razão que a Lambda é considerada uma VOI: variantes nessa classificação apresentam alterações genéticas significativas que podem afetar sua transmissibilidade e virulência; ou são identificadas em locais de transmissão acelerada do vírus.
Devemos nos preocupar com a Lambda?
Segundo Paulo Eduardo Brandão, virologista da Universidade de São Paulo (USP), ainda não há dados concisos de que as mutações da variante Lambda representam maior virulência. Também não se encontrou, até agora, algum mecanismo no genoma da cepa que a transforme em uma variante mais transmissível que as outras.
Ou seja: se essa variante está se espalhando por aí, não é porque, necessariamente, ela tem maior facilidade de ser transmitida, mas sim porque os hospedeiros (pessoas infectadas) estão colaborando para sua disseminação.
A Lambda pode se tornar a variante mais presente no mundo?
Ainda não dá para ter certeza. Contudo, sabe-se que pode haver um sucessor maior de uma variante sobre outra – sem, necessariamente, levar em conta qual delas é a mais contagiosa. “Se uma mutação tornar uma variante mais apta [para existir e se multiplicar em um determinado ambiente] e conseguir escapar melhor à proteção do sistema imunológico em pessoas não vacinadas, ela pode prevalecer sobre outras variantes e se perpetuar”, explica Brandão.
O que nos leva à próxima pergunta:
As vacinas atuais protegem contra a Lambda?
De acordo com Brandão, a imunização (ou seja, o esquema vacinal completo, com aplicação das duas doses, quando é o caso) tem se mostrado eficiente contra a Lambda – e contra as outras variantes também. É importante, então, estar atento ao calendário de vacinação de seu município – e se proteger.
A Lambda no Brasil
Oficialmente, o Brasil tem seis casos da variante Lambda registrados. Mas essa pode ser uma sub-representação, porque o conhecimento de quantas variantes circulam por aqui é muito baixo. Essa identificação depende de extensivo sequenciamento genético do vírus, e, por enquanto, apenas 0,14% dos casos totais de Covid-19 que aconteceram por aqui foram sequenciados.
Mas, afinal: como a Lambda pode impactar o cenário epidemiológico no Brasil?
Brandão afirma que a presença de mais uma variante aumenta a possibilidade de recombinações virais, originando outras variantes, potencialmente problemáticas. E o nosso gerenciamento da pandemia pode estar colaborando para isso.
“A evolução de variantes se dá muito bem em cenários com baixa imunização. Nossa lenta vacinação, com baixa adesão à segunda dose, permite o escape viral à vacinação e pode tornar os vírus mais resistentes”, disse o virologista. “Além disso, a ausência de restrições de circulação de pessoas e de medidas de distanciamento social favorece a transmissão de vírus e a maior variabilidade genética.”