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Vídeo mostra uma cadeia de DNA sendo editada em tempo real

Sabe quando a gente explica edição genética dizendo que é como recortar e colar DNA? Então: agora é possível "filmar" o momento do corte em escala molecular

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 15 nov 2017, 16h11 - Publicado em 15 nov 2017, 16h07

Editar DNA, hoje, é tão fácil quanto recortar e colar um arquivo de computador (considerando, claro, que você tenha uma pós-graduação em genética, mas vamos ignorar essa exigência exótica). Bastar usar uma ferramenta chamada CRISPR-Cas9.

Pena que a atuação dessa ferramenta – que caiu na boca da mídia nos últimos anos por possibilitar, entre outras coisas, curar doenças genéticas em embriões – ocorre em uma escala tão minúscula que fica muito difícil ver a mágica acontecer. Uma dupla-hélice de DNA tem 2 nanômetros de largura – isso é 37,5 mil vezes mais fino que um fio de cabelo médio.

Bem, “muito difícil” não é “impossível”. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Kanazawa, no Japão, usou um microscópio de força atômica (AFM) de alta velocidade para capturar, em tempo real, a atuação da dupla CRISPR-Cas9. Se você não entende do assunto, o resultado não é lá muito revelador: uma bola amarela irregular cortando um barbante marrom é uma boa descrição. Mas não queremos dar spoilers, então tire suas próprias conclusões assistindo ao vídeo aqui embaixo.

O registro foi apresentado pela primeira em uma conferência de genética em Montana, nos EUA. Testemunhas contam que o pesquisador Osamu Nureki, um dos responsáveis pela “filmagem”, levantou da cadeira como quem não quer nada e pôs o vídeo para rodar. O público, surpreso, reagiu como se tivesse acabado de descobrir quem matou Odete Roitman. “Eu estava sentado na frente, e ouvi um suspiro coletivo atrás de mim”, contou ao The Atlantic Sam Sternberg, da Universidade da Califórnia. Os japoneses não levaram um Oscar, mas emplacaram um artigo científico na Nature.

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O tipo de microscópio utilizado atua em uma escala muito inferior à que estamos acostumados – em que as superfícies que queremos ver são grandes o suficientes para refletir a luz que atinge os nossos olhos. Uma molécula de DNA é tão pequena que é menor que os próprios comprimentos de onda da luz visível, o que a impede de refletir o que quer que seja. A luz, ao pé da letra, passa batido.

Para detectar a presença de um corpo tão minúsculo, é preciso tocá-lo (sim, no sentido físico da palavra) usando instrumentos extremamente sensíveis, e então fazer as contas para converter essa perturbação quase imperceptível em informação visual. Como uma pessoa cega que é capaz de descrever a aparência de um objeto com o tato.

Explicações à parte, é bom lembrar que a observação, apesar de ser um feito técnico notável, não revelou nada realmente surpreendente. Não faltam provas e exemplos de que o CRISPR-Cas9 dá certo, e todo mundo já está careca de saber como ele funciona – a SUPER mesmo já descreveu o mecanismo na versão “para leigos” (veja aqui). Acontece que, embora a ciência não precise ver para crer, é sempre mais legal ver do que apenas crer. Se hoje temos a oportunidade de espiar o mundo em escala molecular, é graças a gênios que sacaram como o núcleo de nossas células funcionava em uma época em que a tecnologia para observá-lo estava muito além da imaginação. Haja neurônios.

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