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Vulcão de Dallol: as termas etíopes sulfúricas, coloridas e ferventes de pH 0

No local mais quente já habitado, gêiseres e ferro no solo geram uma paisagem marciana – enquanto as condições químicas extremas (quase) impossibilitam a vida.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
8 set 2024, 18h00

Não faltam descrições do inferno. O apóstolo Mateus disse que “os anjos virão, separarão os perversos dos justos e lançarão aqueles na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (13:49-50). Lucas, por sua vez, diz se tratar de “um local de sede agonizante que jamais pode ser saciada” (16.22-24).

Tanto o calor como a sede encontram algum respaldo na coisa mais próxima do inferno que os geólogos já encontraram na vida real: a depressão de Danakil, na Etiópia, onde fica o vulcão de Dallol.

Ainda que não houvesse o vulcão, essa região desértica já seria torturante por si só. Trata-se do lugar com temperatura média mais alta de qualquer local já habitado na Terra, em 34,6 °C. A máxima média do mês mais quente é 46,7 °C, ou seja: ao longo de junho, por volta do meio-dia, essa é a temperatura na sombra

Quando Mussolini invadiu e anexou a Etiópia como colônia, em 1935, os italianos passaram a extrair enxofre da região. Esse elemento químico, abundante em Dallol, também é típico de descrições literárias do inferno. Não à toa, já que seu cheiro pungente de ovo podre e suas chamas fantasmagóricas dão as caras em erupções vulcânicas.

Uma cidade fantasma que costumava abrigar mineiros italianos hoje está em ruínas, e o solo árido ao seu redor têm cor amarelada por causa desse elemento químico:

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Algumas construções esparsas de um andar só, destruídas e abandonados há décadas, na paisagem desolada de um deserto etíope, com solo amarelada. Ao fundo, uma cordilheira e céu nublado.

Nas proximidades do vulcão, o cenário se torna mais e mais inverossímil. Águas subterrâneas aquecidas pelo magma são expelidas por gêiseres, formando poços rasos de coloração verde, amarela, laranja… As cores remetem a algas, mas na verdade são resultado de variações na oxidação do ferro diluído no líquido, que atinge concentrações de 26 g/L.

Com exceção de algumas poucas colônias de microorganismos extremófilos – adaptados em ambientes de calor ou frio, acidez ou alcalinidade anoirmais –, o local é estéril. O pH na maior parte dos poços d’água é negativo, menor que zero (A água, você deve se lembrar, fica em pH 7. Até uma bateria de carro consegue ser menos ácida, com pH 0,8). A temperatura da água passa dos 100 ºC, e a salinidade é até dez vezes mais alta que o oceano.

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Paisagem natural de aparência alienígena, com depósitos de sal, lagoas com coloração verde de vários tons, montinhos de solo avermelho ao fundo e a superfície árida de um deserto lá atrás.
(Electra Kotopoulou/Wikimedia Commons (CC BY-SA 4.0))

Para completar o cenário infernal, o local fica 125 m abaixo do nível do mar, e o vulcão em si é pontuado por uma cratera de 30 m de diâmetro deixada pela erupção mais recente, em 1926. De tempos em tempos, ao longo da história geológica, a água do Mar Vermelho penetrou no continente e submergiu a região (a última vez que isso aconteceu foi há apenas 30 mil anos).

Fique com uma última imagem, de uma forção de sal e enxofre no meio do relevo avermelhado marciano gerado por minério de ferro. E lembre-se: quando quiser as férias mais desagradáveis possíveis (ainda que deslumbrantes), você já sabe onde se hospedar.

Formação de sal e enxofre, com a aparência de uma escultura modernista abstrata, tem cores amarela e branca e é vista contra um fundo rochoso de cor avermelhada, semelhante à superfície de Marte.
(A. Savin / Free Art License 1.3/Wikimedia Commons)
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