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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.

Carta ao leitor: Uma realidade de pós-guerra, à espera da reconstrução

Após a Segunda Guerra, os dólares do Plano Marshall fundamentais para curar a Europa. Agora, cada país deve tecer sua própria estratégia de resgate.

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Atualizado em 27 abr 2020, 15h16 - Publicado em 22 abr 2020, 18h00

Hanover é uma graça, como qualquer cidade alemã. Mas em 1945 era diferente. O comandante britânico encarregado de administrar a cidade após a Segunda Guerra descreveu o dia a dia ali como uma constante de “saques, brigas, estupros, assassinatos”.

Um desses saques foi a uma loja de maçanetas de porta. “As pessoas chutavam e batiam com barras de ferro em quem tivesse roubado mais maçanetas do que elas”, contou o correspondente de guerra inglês Leonard Mosley (1913-1992). Tudo “numa cidade em que metade das portas não existia mais”.

A luz só voltaria ao continente depois do Plano Marshall. Com medo de que uma Europa arrasada acabasse aliando-se à União Soviética em troca de comida, os EUA financiaram os governos de lá.

A partir de 1948, passaram a injetar bilhões de dólares em 15 países. Era uma mão na roda. Naquele momento, com a economia baleada, praticamente só o dólar e o ouro eram aceitos em transações internacionais, mesmo quando o comércio era entre países europeus.

Com a moeda forte do Plano Marshall no caixa, cada um conseguiu importar um pouco do que precisava para recolocar a vida nos trilhos – comida, fertilizantes, combustível, maquinário para a indústria. A maior parte vinha dos EUA mesmo, que tinham mantido intacta sua capacidade de produção.

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Mas os dólares do Plano também bombaram a força produtiva da Europa. Com mais máquinas e insumos agrícolas, cada país pôde produzir mais e melhor, e vender eles mesmos seus produtos. Nisso, as moedas locais ganharam força. Os dólares se tornaram menos necessários. E em 1952, depois de ter transferido o equivalente a US$ 140 bilhões em dinheiro de hoje, o Plano Marshall fechou as torneiras.

Dois terços do dinheiro tinha sido dado de graça, já que o propósito ali era mais político do que financeiro. O resto foi na forma de empréstimos, mas com prestações a perder de vista. Não é figura de linguagem: a Alemanha quitou sua última parcela só em 1971. O Reino Unido, em 2006.

Agora, que o coronavírus criou uma situação de pós-guerra sem que houvesse uma guerra, fala-se na necessidade de um “novo Plano Marshall”. A diferença é que cada país terá de fazer o seu. Falo sobre o assunto neste reportagem, como parte da nossa cobertura a respeito da realidade sob o coronavírus, que permeia quase toda esta edição. A reportagem de capa, comandada pelo editor Bruno Garattoni, vai além, e mostra como a realidade pós-Covid-19 está sendo construída neste momento.

Boa leitura. Boa sorte. E que a vida volte logo a ser uma graça.

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