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Alexandre Versignassi

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Como o choque com um asteroide descomunal criou o zodíaco

A pancada cósmica também deu origem aos 12 deuses do Olimpo, às 12 tribos de Israel, às 12 Nidanas do budismo e às 12 horas do relógio. Veja como.

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Atualizado em 28 dez 2022, 16h27 - Publicado em 2 mar 2020, 19h48

Num dia qualquer, há uns 4 bilhões de anos, surgiu no céu a mãe de todos os asteroides. Um astro, na verdade. Do tamanho de Marte. A coisa entrou em rota de colisão com o nosso planeta. Bateu. E o resultado foi tão homérico que até hoje um vestígio dele paira sobre as nossas cabeças.

É que a pancada fez a Terra perder uma fatia gorda da própria superfície. Os estilhaços do impacto foram parar em órbita, e se juntaram em volta da Terra na forma de um anel. Um anel de rochas, mais ou menos como o que existe em volta de Saturno. Mas esse nosso anel não durou muito tempo.

Em coisa de um século, os estilhaços já tinham se juntado na forma de uma bola com 73 bilhões de trilhões de toneladas. Uma pedra flutuante com diâmetro que dá basicamente a distância entre o Oiapoque e o Chuí: 3.600 quilômetros.

Uma pedra que, além de grande, é bem bonita para quem olha daqui de baixo. Tanto que costuma ser chamada por nomes femininos. Para o povo da Suméria, a primeira civilização a desenvolver a escrita, há 5 mil anos, a pedra no céu se chamava Nanna. Para os gregos, Selene. Para nós, Lua.

Foto de uma super lua.
(Danny Lawson - PA Images/Getty Images)

Lua: o relógio primordial

Mas a influência da Lua na Terra não ficou restrita à estética, claro. Para começar, ela foi responsável por reduzir drasticamente a rotação do planeta. Antes do choque-rei que deu origem ao satélite, nosso planeta girava bem mais rápido. Um dia durava só quatro horas há 4,5 bilhões de anos. Dali em diante, a gravidade da Lua foi freando nosso giro. Devagar e sempre. Há 1,5 bilhão de anos, o dia durava 18 horas. Há 500 milhões, 21 horas. Há 200 milhões, quando dinossauros flanavam pela Pangeia, 23 horas.

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O balé celestial do satélite girando em torno da Terra criou um fenômeno de luz e sombra: o das quatro fases da Lua – crescente, cheia, nova e minguante. E a regularidade com que o satélite muda de fase para quem olha daqui de baixo serviu como um relógio para a humanidade.

O grande indício de que a Lua foi o nosso relógio primordial está nos primeiros registros escritos, cortesia da Suméria de 3,5 mil a.C. O ano já aparece ali dividido em 12 meses. A ideia de “mês”, afinal, é uma abstração baseada nos ciclos do satélite. É o tempo que ele leva para passar por suas quatro fases.

A coisa, enfim, se provou um jeito matematicamente confortável de dividir com alguma precisão os 365 dias do ano. Tanto que a divisão do ano em 12 meses acabou adotada pela maior parte das culturas humanas, e deu origem ao conceito de calendário.

Uma noção tão importante que acabou colocando o número 12 como personagem central de uma série de mitologias ancestrais, todas independentes umas das outras: os 12 deuses do Olimpo, na Grécia Antiga; as 12 Nidanas (Causas do Eterno Retorno), na Índia; as 12 tribos de Israel. 

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Com os 12 signos do zodíaco foi a mesma coisa, claro. Segue o fio.

A origem do zodíaco

A ideia dos signos surgiu de um jeitinho que os povos da mesopotâmia deram para facilitar a contagem dos dias e meses. Eles estipularam que o ano tinha 360 dias, o que deixava o ano dividido em 12 partes de 30 dias cada.  

Faltava combinar com a Terra, já que ela teima em demorar 365 dias 5 horas, 48 minutos e 46 segundos para dar uma volta completa em torno do Sol. Mas acertaram isso adicionando um mês extra ao calendário de tempos em tempos – do mesmo jeito que fazemos hoje com os anos bissextos, colocando um dia a mais em fevereiro a cada quatro anos para dar conta desse um quarto a mais. A diferença é que os meses bissextos deles eram menos bissextos, aconteciam com mais frequência, para dar conta do atraso de 5 dias que se acumulava a cada ano. 

Seja como for, o nosso sistema é filhote do deles. Tanto que você carrega um resquício do calendário mesopotâmico no pulso, ou no celular: os dias e noites divididos em 12 partes, de uma hora cada – era uma forma de trazer a elegância da contagem do tempo da escala macro para a micro.

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E tudo por conta daquela pancada cósmica de 4,5 bilhões de anos atrás. Se ela tivesse sido um pouco mais forte ou um pouco mais fraca, um ano poderia conter mais ciclos lunares, ou menos. Seu relógio, então, seria um pouco diferente. Idem para o número de deuses do Olimpo, de Nidanas do budismo, de tribos de Israel (e de discípulos de Jesus…). 

Bom, a ideia do ano de 360 dias derivou também derivou numa abstração. Não mística, mas geométrica: dividir qualquer círculo em 360 partes iguais, aquilo que a gente conhece como “graus”. Qualquer círculo mesmo, inclusive a abóbada celeste. Os mapas estelares da Mesopotâmia, impressos em tábuas de argila, eram círculos divididos em 12 partes iguais, de 30 graus. Cada um era representado por uma constelação específica, para que quem fosse consultar o mapa conseguisse se localizar direitinho.

Constelações, note bem, não existem fora da nossa cabeça. Pense no Cruzeiro do Sul. Visto daqui da Terra, esse conjunto de cinco estrelas forma mesmo uma cruz harmônica. Mas cada uma das estrelas ali está num ponto completamente diferente da galáxia.

A Beta Crucis, estrela que marca o braço direito da cruz está a 280 anos-luz de distância. A Delta Crucis, responsável pelo braço esquerdo, a 345 anos-luz. Se você levar em conta que a estrela mais próxima do Sistema Solar é a Alpha Centauri, a 4 anos-luz, já dá para ver que é muita coisa.

Mas ok. Há 5 mil anos não dava para saber mesmo. E que mapear constelações ajudava a ler melhor o céu, ajudava. E o jeito Mesopotâmico de olhar para as estrelas acabou pegando. Boa parte das constelações que eles catalogaram lá atrás para sinalizar as 12 divisões de seus mapas estelares acabaram entrando para a cultura grega, de lá foram para a romana, e terminaram na nossa: o Touro, o Caranguejo (Câncer), a Balança (Libra), o Pé de Cevada (Virgem)…

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Eram os doze “sinais” do zodíaco. Os doze signos – palavra cuja raiz é a mesma de design (desenho) e de disegno (desenho em italiano). O nome “zodíaco”, aliás, só apareceu bem depois dos sumérios, na Grécia – vem de “zoe”, “vida”, em referência aos animais que dão nome para as constelações. Seja como for, a ideia de organizar o céu dessa forma é pelo menos tão antiga quanto a escrita. 

Provavelmente, bem mais antiga. Porque foi graças à habilidade de usar as estrelas, as fases da Lua e a posição do Sol ao longo do ano (para determinar as mudanças de estação), que a humanidade o maior salto de sua existência: a criação da agricultura, que remonta há 15 mil anos. Sem ela, não haveria aquilo que convencionamos chamar de “civilização”. E sem o apetite humano por ver significados no céu, também não.

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