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Alexandre Versignassi

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Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Entre a renúncia e o impeachment: os fantasmas de Bolsonaro

Ao chamar a população às ruas para apoiá-lo, Bolsonaro faz como Jânio e Collor. E flerta com a possibilidade de ter o mesmo destino dos dois.

Por Alexandre Versignassi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 Maio 2019, 12h49 - Publicado em 20 Maio 2019, 12h49

Bolsonaro assumiu repetindo que “nossa bandeira jamais será vermelha”. Se colocava como a solução contra uma ameaça inexistente – a de que alguma força estaria prestes a transformar o Brasil numa República Soviética, ou coisa que o valha.

Faltou combinar com os russos. A única fonte de problemas para o governo Bolsonaro foi sempre a inépcia do próprio governo Bolsonaro.

Sem ter como assumir isso, o presidente elegeu novos inimigos imaginários. No texto destrambelhado que distribuiu na última sexta, ele endossa que a ameaça agora vem do Congresso, dos grandes empresários, dos militares.

Está lá: “Agora, como a agenda não é do interesse de praticamente nenhuma corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro [do Estado] fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante….”.

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Igual ao escorpião da fábula, Bolsonaro seguiu sua natureza destrutiva. Ao distribuir o texto, ele dá uma ferroada justamente nos agentes que o levaram nas costas lá dos fundos da Câmara até o terceiro andar do Palácio do Planalto.

É confortável atribuir tal ausência de nexo aos limites intelectuais do presidente. Mas não é tão simples.

Bolsonaro sabe que as investigações de corrupção contra o filho podem trazer à tona mais ligações de sua família com o crime organizado.

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SIm. Deixemos de lado o eufemismo “milícias”; ou o eventualmente glamouroso “máfia”. Aquilo que começou na favela de Rio das Pedras, a Pasárgada do Dr. Queiroz, é tão crime organizado quanto PCC, CV, ADA ou qualquer grupo de indivíduos que se reúna para assaltar um banco ou matar um desafeto.

Em janeiro, o cheque que a esposa de Bolsonaro recebeu de Queiroz passou meio que batido pela maior parte opinião pública. Era hora de “torcer a favor”, afinal. Agora ele não tem tanta torcida assim. Qualquer novidade virá como uma bomba atômica.

Nesse cenário, dá para entender a carta como uma ação de guerra preventiva. Sabendo que será atacado de forma inédita com o avanço das investigações, que virá gritos de impeachment de todos os lados, Bolsonaro lançou uma primeira ofensiva para ver se mobiliza a população a seu favor. A segunda ofensiva veio logo depois, com a chamada às ruas em sua defesa no dia 26 de maio.

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Jânio e Collor fizeram o mesmo, cada um de uma forma: Jânio renunciando para ver se voltava com poderes absolutos e Collor chamando o povo a sair de verde e amarelo. E foi aí que descobriram o pior: que o apoio popular que os levara à presidência tinha evaporado. Só existia dentro de suas cabeças.

Jânio teve de ficar em casa, e Collor viu as ruas tomadas por gente de preto – num episódio que, segundo ele próprio, não teria como produzir outro resultado que não seu impeachment. É impossível saber o que acontecerá no dia 26. Mas o fato é que a sorte de Bolsonaro está lançada. Se a respostas das ruas não vier, pode ser o começo do fim de um governo que mal completou cinco meses.

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