O experimento mental de Einstein
Ele faria 140 anos hoje, e começou sua maior teoria com um exercício pueril de imaginação, aos 16 anos, andando de bicicleta. Entenda o que ele pensou.
Raios de luz são perseguidores. Fique parado e os raios passam por você a 300 mil quilômetros por segundo, a maior velocidade possível no Universo. Fuja desses raios a 1 bilhão de km/h, e eles continuarão zunindo ao redor da sua cabeça – a 300 mil km/s, ou 1,079 bilhão de km/h.
Não faz sentido. Mas isso tem um motivo: quanto mais rápido você se move, mais devagar o tempo passa dentro do seu corpo – e mais rápido fora dele. Tudo o que está do lado de fora do seu corpo passa em fast forward. Esse efeito é imperceptível a velocidades cotidianas. Mas, quando você acelera a mais de 99% da velocidade da luz, é justamente o que acontece.
Se você estiver fugindo de um raio nesse pique, a 1 bilhão de km/h, vai vê-lo entrar em fast forward também. Então verá o raio passar por você a 300 mil km/s, como se você estivesse parado. Quem estiver do lado de fora vai ver o raio passando a 300 mil km/s, como sempre.
Mais: do ponto de vista do raio de luz, que se move à maior velocidade possível no Universo, o tempo não existe. Se para você o tempo não pára, para um fóton o tempo não passa. Quanto mais rápido algo se move pelo espaço, afinal, menos tempo sobra pra ele. Se essa rapidez for a máxima possível, o tempo deixa de existir.
Se fótons tivessem consciência, então, eles achariam que nasceram e morreram no mesmo instante, mesmo que tenham vivido bilhões de anos entre o instante de sua emissão e o de sua absorção. Para o fóton, a velocidade com que você corre não importa. Ele não “sabe” o que é velocidade, já que não experimenta a passagem de tempo. E sem uma métrica de tempo, o conceito de velocidade nem existe.
Quem descobriu tudo isso foi, claro, Albert Einstein, que faz aniversário hoje. O alemão nasceu num dia 14 de março, em 1879. Aos 16 anos, ele fez um “experimento mental”. Enquanto andava de bicicleta, imaginou como seria fugir de um raio de luz. O fato de os raios “perseguirem” qualquer coisa que fuja deles já era conhecido desde meados do século 19 – cortesia dos experimentos de James Clerk Maxwell, um gênio que morreu no ano em que Einstein nasceu.
Esse experimento mental adolescente foi o estopim para a Teoria da Relatividade Especial, que Einstein publicaria apenas 10 anos depois, quando ainda tinha 26 anos – pouco mais que o Justin Bieber.
O triste é ver que a essa altura, 140 anos depois depois do nascimento do maior físico da história, sua teoria ainda seja tão pouco conhecida. E pior: refutada por analfabetos funcionais que, justamente pela ignorância que exalam, atraem enxames de seguidores. Professor Albert, esperamos que em algum próximo aniversário do sr. estejamos um pouco mais longe das trevas.