PlayStation Portal é bom, mas experiência depende da qualidade da internet
Aparelho portátil se conecta ao PlayStation 5 via Wi-Fi, e permite rodar os jogos dele de qualquer lugar; leia review
O mercado vive uma febre de PCs gamer de mão: após o lançamento do Steam Deck, em 2022, surgiram vários concorrentes, como o Asus ROG Ally, o Lenovo Legion Go e o MSI Claw – bem como o Zeenix, da brasileira TecToy. De olho nessa tendência, a Microsoft tem insinuado que pode lançar um console portátil. A Sony já fez isso, mas tomou um caminho diferente: o PlayStation Portal, que saiu nos EUA em novembro e agora chega ao Brasil (R$ 1.499), funciona como um acesso remoto para o PlayStation 5.
Ele se conecta por Wi-Fi ao PS5, e permite jogar os games dele. Isso traz vantagens e desvantagens. A primeira vantagem é que o Portal tem acesso a games mais sofisticados, que se beneficiam do poder de processamento do PlayStation 5, bem superior a qualquer console portátil (10,2 teraflops, seis vezes mais que o Steam Deck, por exemplo).
Além disso, como o Portal não roda os games -isso é feito remotamente, pelo PS5-, sua bateria dura muito mais: durante os testes do aparelho, ao longo de uma semana, consegui em média 6h de autonomia (o Steam Deck e seus rivais costumam alcançar 1h30 a 2h).
As desvantagens do Portal são duas: ele requer um PlayStation 5, o que encarece as coisas, e também depende bastante da qualidade da conexão à internet. A Sony recomenda pelo menos 15 Mbps, o que não é muito. Mas, na prática, há outros fatores envolvidos além da velocidade – como a estabilidade e a latência da conexão.
Tenho internet de 300 Mbps e uma rede Wi-Fi mesh com pontos de acesso TP-Link Deco M3, que prometem 1.167 Mbps de máxima. Na vida real, como sempre, o número é bem menor: o PS5 conectado a essa rede Wi-Fi “enxerga” 110,7 Mbps de download e 35,8 Mbps de upload.
Foi mais do que suficiente para o Portal, que se comportou de forma quase irrepreensível, sem engasgar, ao longo da semana (inclusive num ponto da casa onde o sinal não pega perfeitamente).
O único porém foi que, nessa rede, ele não conseguiu manter 60 fps constantes – de vez em quando, caía para algo em torno de 40 a 50 fps. Isso não chega a incomodar, pois não é tão perceptível (exceto em Gran Turismo 7 e outros games de corrida, nos quais o movimento contínuo evidencia qualquer oscilação de fps).
Minha rede é do padrão Wi-Fi 5, o mais recente suportado pelo Portal – ele não tem Wi-Fi 6, 6E ou 7. Como o aparelho depende criticamente da conexão à internet, seria bom que pudesse aproveitar esses protocolos mais modernos. Mas, com uma rede boa, o Wi-Fi 5 é suficiente.
A Sony apresenta o Portal como um aparelho para uso doméstico – para você jogar PlayStation 5 em cômodos que não têm TV, ou sem monopolizar a TV. Mas ele também pode ser usado fora de casa, conectado a redes Wi-Fi públicas. Nessa situação, há um porém. Sabe quando você se conecta a uma rede Wi-Fi pública e ela exibe uma página, na qual você deve preencher um cadastro ou simplesmente clicar em Ok para completar a conexão?
Esse tipo de conexão Wi-Fi se chama “portal cativo” (captive portal), e é bem comum. Em junho a Sony atualizou o Portal, que passou a ser compatível com esse método de autenticação.
Mas o processo é meio desajeitado – o Portal exibe um QR code, que você deve escanear com o seu celular para completar a conexão. E, nos nossos testes, nem sempre funcionou: ao conectar o Portal a algumas redes Wi-Fi públicas que usam portais cativos, o QR code não aparecia; em outras sim, mas o processo não completava. A conexão a Wi-Fi cativo é um ponto a melhorar.
Já conectado ao celular, no modo hotspot portátil, o Portal teve bom desempenho: por essa conexão (4,5G da Claro), ele rodou os games quase tão bem quanto no Wi-Fi de casa. Só vale ficar atento ao consumo de dados, que é considerável – em média 3 GB por hora de uso.
Você consegue ligar e desligar remotamente o PlayStation 5 através do Portal; ao sair de casa, basta deixar o PS5 em “modo de espera”. Funcionou perfeitamente durante os testes (o único porém é que o PS5 demora um pouquinho, 30 a 60 segundos, até ligar e liberar a conexão ao Portal). Só não dá para contar com isso durante períodos mais longos, como uma viagem – pois, se acabar a luz na sua casa, o PlayStation 5 não religa sozinho.
Um detalhe curioso é que não dá para usar Netflix, YouTube, Apple TV+ ou outros aplicativos de streaming instalados no PlayStation 5: o Portal simplesmente exibe uma mensagem dizendo que não rola. Não dá para saber se é uma restrição jurídica, envolvendo o licenciamento de conteúdo dessas plataformas, ou tecnológica, relacionada à criptografia de vídeo – perguntada a respeito, a Sony respondeu apenas que o foco do aparelho são os games.
Vale lembrar que a Sony já oferece um aplicativo, o PS Remote Play, que permite fazer mais ou menos a mesma coisa que o Portal, só que no smartphone: instalando esse app no seu Android ou iPhone, e conectando a ele um controle sem fio, você consegue acessar remotamente o seu PS5 e jogar os games instalados nele.
A vantagem do Portal (além de não monopolizar o celular) é que ele tem uma tela bem maior, de 8 polegadas e resolução 1080p, e controles já acoplados. Sua tela é LCD, não OLED, mas é boa, com bastante brilho e saturação.
Ela fica bem equilibrada entre os controles – idênticos ao DualSense, do PS5, só que “cortado ao meio” (metade de cada lado do Portal). Reproduzem todas as funções do DualSense, incluindo resposta háptica e gatilhos adaptáveis, mas não têm o touchpad – para acioná-lo, você toca na tela.
O aparelho não aceita fones de ouvido Bluetooth (sem fio, ele só é compatível com os fones Pulse Explore e Pulse Elite, do PS5). Mas também tem saída para fones com fio, então ok.
Para quem tem um PlayStation 5, e anda pensando em comprar um console portátil, o Portal é uma boa opção. Ele tem o porém de depender da internet, mas compensa isso dando acesso a alto poder de processamento e toda a biblioteca de jogos do PS5, ter boa autonomia de bateria e preço razoável – na Amazon, está com R$ 150 de desconto (veja abaixo).