ROG Ally X entrega o que promete – e é disparado o melhor dos consoles portáteis
PC gamer de mão tem chip de 8,6 teraflops, cinco vezes mais que o Steam Deck, e bateria de 80 watts-hora, com o dobro da autonomia dos rivais; leia review
O mercado de PCs de mão está bombando: depois que a Valve lançou o Steam Deck, em 2022, vários fabricantes criaram seus próprios aparelhos do tipo, como o ROG Ally (Asus), o Legion Go (Lenovo), o Claw (MSI) e a linha Ayaneo (da empresa chinesa de mesmo nome). Mas todos têm um problema central: a duração da bateria. Eles gastam bastante energia, pois são computadores de verdade, rodando um sistema operacional completo (Linux, no Steam Deck, ou Windows, nos outros). Por isso, costumam ter autonomia bem limitada, de 1h30 a 2h.
O novo ROG Ally X, que está sendo lançado no Brasil, finalmente resolve isso, porque traz uma bateria enorme: ela tem capacidade de 80 watts/hora. É o dobro dos outros PCs de mão (e chega a ser maior, até, que a bateria de um MacBook Pro de 14 polegadas, por exemplo, que tem 70 Wh). Apesar disso, o ROG Ally X não é muito mais pesado do que seus rivais: tem 678 gramas, contra 640 g do Steam Deck.
E esse peso é bem distribuído: o portátil da Asus tem ótima ergonomia, e não incomoda mesmo após horas de uso. O ROG Ally X tem tela LCD de 7 polegadas, sensível ao toque, com taxa de atualização de 120 Hz e resolução Full HD. Vem com 24 GB de memória RAM, SSD de 1 terabyte e sua APU (chip que reúne o processador e a placa de vídeo) é a Ryzen Z1 Extreme, da AMD, que trabalha a 3,3 GHz e é capaz de executar 8,6 teraflops (trilhões de operações por segundo).
Isso é um grande salto em relação ao Steam Deck (1,6 teraflop), e se aproxima da performance dos consoles de mesa, como o PlayStation 5 (10,28 teraflops) e o Xbox Series X (12 teraflops).
Há um porém. Para alcançar os 8,6 teraflops, o chip Z1 Extreme recorre a um expediente chamado dual issue: em certas condicões, ele consegue computar o dobro de instruções a cada ciclo de processamento. Só que essa duplicação de performance não cobre todas as instruções processáveis pelo chip – ou seja, não chega a ser a mesma coisa do que executar 8,6 teraflops “reais”.
Mesmo assim, o Z1 Extreme é, de longe, o chip mais potente dos consoles portáteis. Para ver como ele se comporta na prática, testamos o ROG Ally X durante uma semana.
O primeiro passo, após tirar o aparelho da caixa, foi passar pelas etapas iniciais de configuração do Windows, instalar as plataformas de games (Steam, Epic Games Launcher e Ubisoft Connect) e os jogos em si. Deu tudo certo; mas esse processo poderia ser mais agradável.
O Windows apresentou suas chateações típicas, como ficar oferecendo assinaturas dos serviços Onedrive e Office 365. A navegação pelos sites, para baixar a Steam e similares, não é ideal (porque as páginas não foram otimizadas para uma tela de 7″), e tive um contratempo ao logar no Epic Games Launcher: por alguma razão, o teclado virtual não aparecia na tela (resolvi o problema abrindo a barra de tarefas e clicando no botão dele).
Nada disso é culpa do ROG Ally X; são questões do Windows. A Microsoft realmente deveria criar uma versão do Windows 11, ou um “modo handheld”, para que ele rode melhor nos PCs de mão – especula-se que a empresa já esteja trabalhando nisso.
Depois de instalar os games, a navegação pela interface do ROG Ally X ficou perfeita. Ele tem um app, o Armoury Crate, que reconhece automaticamente todos os jogos instalados – e os organiza numa lista com itens grandões, fáceis de navegar usando os botões do console (que têm ótima responsividade, e lembram muito o controle do Xbox Series).
Comecei os testes com Star Wars Outlaws, da Ubisoft, um game bem pesado. A primeira impressão foi de certa surpresa: mesmo com os gráficos setados para o nível Low, o ROG Ally X sofria para manter 30 fps estáveis em 1080p. Mas aí liguei o recurso Frame Generation, do upscaler FSR 3, e o resultado ficou ótimo: 38 a 40 fps estáveis (com raras quedas, em momentos com muitos efeitos visuais, para 28 a 30 fps).
Isso com o ROG Ally X setado no modo Desempenho, em que ele gasta 15 watts. Nesse modo, a bateria durou impressionantes 187 minutos. Mais de três horas – o dobro do Steam Deck e outros PCs de mão.
Experimentei colocar o ROG Ally X no modo Turbo, que aumenta o consumo para 25 watts. A performance melhorou um pouco (a taxa média de quadros não aumentou, mas as quedas de fps, que já eram infrequentes, ficaram mais raras ainda), mas a bateria descarregou bem mais rápido: no modo Turbo, ela durou 113 minutos – um patamar aceitável, no mesmo nível dos outros PCs de mão, mas aquém do que o ROG Ally X é capaz.
Durante todos os testes, com todos os games, o chip do ROG Ally X se manteve bem refrigerado, entre 55 e 70 graus. Sua ventoinha é silenciosa, não faz barulho – mas, em alguns momentos, você sente uma leve vibração gerada por ela. O aparelho vem com fonte de alimentação de 65 watts, que leva aproximadamente 1h40 para recarregar a bateria.
Continuando os testes, rodei um game um pouco menos pesado: F1 24. O primeiro resultado também foi meio estranho: com os gráficos no modo Ultra Low, em 720p, o ROG Ally X alcançou apenas 33 fps de média – e dando muitos trancos durante o jogo. Difícil de explicar, já que ele tem hardware de sobra para se sair muito melhor.
Pesquisei um pouco na internet e encontrei a solução: habilitar o recurso AFMF (AMD Fluid Motion Frames) nas configurações de vídeo. Feito isso, o ROG Ally X voou: média de 99 fps, no modo Performance, ou 125 fps no modo Turbo, sem trancos.
Esse tipo de experimentação faz parte: jogar no PC, mesmo em um PC de mão, requer que você esteja disposto a fazer um ou outro ajuste para conseguir a melhor performance. Mas isso é tranquilo – e existe um site não oficial, o ROG Ally Life, que publica configurações recomendadas para dezenas de jogos.
Em seguida, instalei Cyberpunk 2077, no qual o ROG Ally X se saiu bem logo de cara: com os gráficos no Low, a 1080p, ele conseguiu média de 36 fps, sem engasgos – isso no modo Desempenho, e com ray tracing ativado (desligá-lo não aumentou os fps, então deixei ligado). Ativando o recurso Frame Generation, no menu de configurações do jogo, ele deu um salto: 60 fps estáveis (no modo Desempenho).
Vale destacar o seguinte: mesmo rodando os jogos com os gráficos setados no nível Low (ou, em F1 24, Ultra Low), o resultado visual ficou excelente, muito bonito. É que a tela, por ter 7 polegadas, acaba disfarçando eventuais limitações gráficas dos jogos – elas não incomodam como se você estivesse jogando num monitor ou, principalmente, numa TV grandona.
Em Cyberpunk 2077 e F1 24, assim como em Star Wars Outlaws, a bateria durou cerca de três horas (com o aparelho no modo Desempenho). Mas, se você rodar games mais simples, ela pode ir bem além. Com o ótimo New Star GP (um jogo de corrida inspirado na Fórmula 1 dos anos 1980), por exemplo, o portátil da Asus alcançou 5h de autonomia.
Em suma: o ROG Ally X tem boa performance, mesmo com os jogos mais recentes, sua ergonomia é excelente – e a autonomia dá um grande salto em relação aos concorrentes. A Asus merece aplausos por ter conseguido incluir uma bateria de 80 WH sem aumentar muito o peso do aparelho. Ele é, disparado, o melhor dos PCs gamer de mão.
Mas isso tem um preço: o ROG Ally X custa R$ 7.199 no site da Asus (em alguns varejistas, já é possível encontrá-lo por um pouco menos – como R$ 6.799 no Ponto Frio). É bastante dinheiro – embora valha lembrar que o ROG Ally X também é um (bom) PC, podendo ser usado para trabalhar, conectado a mouse, teclado e monitor.
Seu preço é similar ao do Legion Go, da Lenovo, que tem hardware parecido (o Lenovo tem tela maior, de 8,8 polegadas, mas peso também maior, 854 gramas, e bateria bem menor, 49 Wh). Já o Steam Deck pode ser encontrado no MercadoLivre por R$ 3.500.
Mas não dá para comparar: como o portátil da Valve (que tem 1/5 do poder de processamento do ROG Ally X) não é vendido oficialmente no Brasil, ele não tem garantia – e nem sempre entra no país pagando os devidos impostos.