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A palavra “desastre” tem alguma coisa a ver com os astros?

Sim: essa é mais uma da série "a culpa é de Mercúrio retrógrado". E não para por aí: "tragédia" tem a ver com bodes, e "horripilante", com cabelos.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
4 mar 2024, 10h00

Sim. O prefixo “des-” vem do latim e diz respeito a qualquer coisa que está fora do lugar (desalinhado, desnutrido, desonra). “Desastre”, portanto, é aquilo que acontece quando há algo errado com a disposição dos astros – o que evidencia, claro, a importância que a astrologia tinha para a compreensão de mundo dos povos da Antiguidade. Houve uma enchente ou incêndio? Culpa de Mercúrio retrógrado (rs).

E acredite: essa não é a etimologia mais peculiar nesse campo semântico. “Tragédia” vem de uma expressão em grego antigo que significa “o canto do bode”. Talvez em referência a músicas cantadas em rituais de sacrifício do animal, ou a competições de canto dramático em que um bode era o prêmio.

Tendo o prefixo “des-” em mente, fica fácil sacar a origem de outras palavras do mesmo campo semântico: “desgraça”, que é, simplesmente, o contrário de uma graça, ou “desespero”, que é o contrário da esperança.

E nossa aventura por substantivos de horror e desventura continua com “tormento”. Em latim, tormentum era o nome de uma máquina de guerra romana que arremessava projéteis como pedras e flechas. Na ausência de pólvora, ela utilizava a energia potencial liberada por uma corda torcida (em vez de esticada, como ocorre em um estilingue). De fato, a raiz etimológica da palavra é a mesma de “torque”, “torção” ou “torto”.

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Você pode imaginar que não era a coisa mais agradável do mundo ser bombardeado por tormentas, especialmente as equipadas com projéteis incendiários. Não demorou, portanto, para que o nome das máquinas se tornasse metonímia para o nome da barragem de projéteis que elas lançavam, e a para o (cof, cof) tormento de ser bombardeado.

Que horror. Horror, diga-se, significava “arrepiar” o latim, justamente porque ficamos com os cabelos em pé diante de certos acontecimentos. A referência à situação capilar dos amendrontados fica mais explícita em outra versão da palavra: “horripilante”, em que a parte do “-pilante” vem de pillum: “cabelo” em latim, e o motivo pelo qual hoje se fala em “folículo piloso”.

 

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