A resposta é “sim” para as duas perguntas. Pelo menos se estivermos pensando dentro dos paradigmas da Relatividade Geral de Einstein, a teoria que os físicos adotam hoje de maneira consensual para definir e descrever o espaço, o tempo e o fenômeno da gravidade.
Essa é uma ressalva importante por causa do seguinte: ao longo da história, filósofos e físicos debateram avidamente a natureza do tempo. De discussão em discussão, acabaram se dividindo basicamente em duas vertentes de pensamento: o eternalismo e o presentismo.
Os eternalistas acreditam que todos os momentos do passado e do futuro existem simultaneamente numa grande linha do tempo, e que o nosso presente é apenas um dos vários frames do filme da realidade – o frame que nós calhamos de estar vivendo neste exato momento.
Os presentistas, por outro lado, apostam que só o presente é real, e que coisas como o filósofo Sócrates, o Farol de Alexandria ou os Jardins da Babilônia ficaram para trás de vez. Simplesmente cessaram de existir; sobrevivem apenas como lembranças.
A perspectiva presentista é a mais intuitiva. A experiência cotidiana não nos dá nenhum motivo para pensar que o passado continua lá depois que ele passa. Ponha o futuro na conta e o negócio fica ainda mais maluco: se ele já existisse, não haveria livre-arbítrio. Todas nossas ações estariam traçadas de antemão, como uma fileira de dominós derrubando uns aos outros rumo a um único desfecho inexorável.
A ideia de que nosso destino já está escrito não incomoda só porque parece errada (nós nos sentimos claramente aptos a decidir o que faremos no futuro), mas também porque é aterrorizante imaginar que não temos controle algum sobre os acontecimentos.
Até Einstein publicar seus trabalhos mais importantes, entre 1905 e 1915, a física não possuía uma descrição do tempo que permitisse desempatar o debate entre presentistas e eternalistas. Ambos poderiam estar certos.
O trabalho de Einstein, porém, leva inevitavelmente à ideia de que o passado e o futuro são tão reais quanto o presente. Esse é um pilar da Relatividade. E como todas as previsões feitas com as equações do alemão bigodudo se provam corretas com muitas casas decimais de precisão, nós temos um caminhão de evidências sólidas que favorecem a ideia de um Universo eternalista.
Para Einstein, o tempo é uma dimensão. Para entender o significado disso, pense assim: para marcar uma reunião, precisamos de um endereço – que determina um ponto nas três dimensões do espaço – e de um horário, que é um ponto no tempo. O relógio é só mais uma coordenada em um gráfico cartesiano com quatro dimensões.
O problema: Einstein descobriu que o tempo não anda no mesmo ritmo para todos. Ele passa mais devagar se você se mover muito rápido ou ficar próximo de um objetivo massivo com muita atração gravitacional, como um buraco negro. O roteiro do filme Interstellar (2011) gira em torno dessa ideia.
Isso significa que cada pessoa tem um relógio particular, e que uma pessoa viaja no tempo em relação a outra quando seus relógios saem de sincronia. Se um astronauta hipotético passasse muito tempo sob influência de um campo gravitacional intenso, alguns minutos para ele poderiam equivaler a horas ou dias para quem ficou aqui na Terra. Quando ele voltasse para casa, praticamente com a mesma idade, pessoas que eram jovens quando ele partiu já seriam idosas, e os carros voadores dos Jetsons estariam cortando os céus.
Para que cada pessoa tenha seu tempo particular, todos os pontos do tempo precisam existir simultaneamente. Na Relatividade, passado e futuro são como lugares em que pessoas diferentes estão: o que você percebe como presente é só o lugar do tempo em que se encontra o seu relógio específico.
Pergunta de @falpek, via Instagram