Por que nós menstruamos – mas a maioria dos mamíferos, não?
Agradeça o endométrio diferentão do Homo sapiens.
De fato, esse fenômeno só ocorre em alguns primatas, alguns morcegos e num bichinho chamado musaranho-elefante. Em outros animais, o revestimento do útero, chamado endométrio, geralmente é reabsorvido.
Como o cheiro de sangue atrai predadores, é preciso que a menstruação compense o risco com alguma vantagem de sobrevivência. Além disso, uma mulher terá algo entre 400 e 500 menstruações durante a vida, o que representa aproximadamente 22 litros de sangue e tecido perdidos.
Hoje, a hipótese mais aceita gira em torno do fato de que o endométrio humano é mais espesso que o de outros mamíferos. Isso torna sua reabsorção complexa e custosa.
Em coelhos, por exemplo, o revestimento só engrossa quando há um embrião. Em nós, basta a ovulação para desencadear o preparo da cama que receberá o futuro bebê.
Por que um endométrio tão generoso, que entra em ação preventivamente? Ele seria um mecanismo de defesa: evitaria a implantação de embriões com problemas, para não drenar recursos da mãe inutilmente.
Estima-se que algo entre 30% e 60% dos embriões humanos sejam eliminados pelo organismo das mulheres sem cerimônia, junto com a menstruação, antes de qualquer sinal de gravidez. Isso acontece porque esses embriões possuem anomalias genéticas graves que tornariam a gestação inviável em longo prazo.
As células do endométrio têm meios de detectar, por exemplo, variações na taxa metabólica de seus hóspedes, que sinalizam esses problemas.
É importante lembrar que a gravidez é um conflito de interesses entre a mãe e a criança. Eles vão disputar nutrientes e outros recursos. O endométrio também é uma barreira que resiste ativamente ao feto, evitando que ele drene recursos demais da gestante.
Fontes: Mercedes Okumura, coordenadora do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP; textos “Explainer: why do women menstruate?” em The Conversation e “Why do humans – and so few other animals – have periods?” de Helena Cornu e Ailie McWhinnie da Universidade de Edimburgo.