LIGO acusa choque entre buracos negros 25 vezes maiores que o Sol
É a 1º vez que as ondas gravitacionais geradas por um fenômeno assim são pegas por 3 detectores aqui na Terra – o que melhora muito a precisão da observação
O trânsito do cosmos anda mais perigoso que o de São Paulo. O observatório LIGO detectou seu quarto “lote” de ondas gravitacionais – geradas pela colisão de dois buracos negros, de massas 31 e 25 vezes maiores que o Sol, a 1,8 bilhões de anos-luz daqui.
O resultado dessa pancada homérica, como o de todas as outras registradas até então, é a fusão dos dois envolvidos em um único buraco negro – nesse caso, 53 vezes maior que o Sol –, além de uma liberação de energia tão intensa que uma discreta deformação no tecido do espaço-tempo se propaga.
São essas deformações, conhecidas como ondas gravitacionais, que alcançam os detectores terráqueos – e trazem consigo informações detalhadas sobre o fenômeno, que permitem calcular os dados acima. Apesar da violência da pancada, as ondas resultantes chegam por aqui tão fracas que os interferômetros de laser do LIGO, com quatro quilômetros de comprimento, precisam ser capazes de perceber uma perturbação de um milésimo do diâmetro de um núcleo atômico. Haja sensibilidade.
Apesar do anúncio à imprensa só ter sido feito hoje, as ondas chegaram em 14 de agosto, às 13h30 no horário de Brasília. Os dois observatórios que formam o LIGO – localizados em Livingston, na Louisiana, e em Hanford, em Washington (ambos nos EUA) – detectaram essa “marolinhas” cósmicas, assim como o Virgo, um equipamento adicional que fica em Pisa, na Itália, e que também contribui com as observações. Um artigo científico sobre o evento já está no ar.
O Virgo estava em funcionamento há apenas duas semanas. Segundo os responsáveis pelo LIGO, essa primeira detecção, tão rápida, é um sinal de que o reforço italiano é bem vindo – e que o número de detecções deve aumentar até não ser mais notícia.”Esse é só o começo das observações que poderemos fazer com LIGO e Virgo trabalhando juntos”, declarou à imprensa David Shoemaker, do MIT. “Com a próxima série de observações, planejadas para o outono de 2018, poderemos esperar detecções semanais – ou até mais frequentes do que isso.”
Quando os físicos cruzam as informações colhidas pelos três sensores, em vez de dois, fica vinte vezes mais fácil calcular de que região do céu vieram as ondas – e, assim, encontrar a fonte das emissões. “Esse evento é semelhante aos anteriores”, explicou à SUPER a astrofísica Marcelle Soares-Santos, que trabalha com a detecção de possíveis ondas eletromagnéticas associadas às ondas gravitacionais. “O que ele tem de especial é que foi identificado pela primeira vez usando três detectores. Isso torna a área no céu bem mais compacta e facilita muito as buscas por emissões eletromagnéticas, o que é animador para grupos como o meu, que fazem observações usando telescópios.”
Ou seja: as ondas gravitacionais estão se tornando um meio cada vez mais preciso e confiável de observação do universo distante. Logo, a chegada delas vai virar hábito – e as próximas descobertas prometem ser cada vez mais incríveis.