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Você tem 2 m de DNA em cada célula – como é que ele não embaraça?

A ciência está prestes a entender porque nossos filamentos de DNA não enrolam feito fones de ouvido no núcleo das células – e isso ajuda a combater o câncer

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h16 - Publicado em 4 Maio 2017, 17h45

Você tem dois metros de DNA no núcleo de cada célula do seu corpo. E seu corpo, segundo a estimativa mais precisa, é formado por 37,2 trilhões de células – ninguém quis contar uma por uma para confirmar o número, ainda bem.

Isso significa que, de alguma forma, cabem 74,4 trilhões de quilômetros de material genético dentro de você. É o suficiente para ir e voltar de Plutão cinco vezes – no ponto da órbita do planeta em que ele passa mais longe da Terra, que fique claro.

Isso deixa uma questão importante no ar: se um par de fones de ouvido de um metro de comprimento não pode passar dois minutos no bolso da calça sem embaraçar, qual é a força mágica que mantém dois metros de DNA enrolados direitinho em um espaço menor que 0,01 mm?

Ninguém sabe. Mas a ciência está cada vez mais perto da resposta. A teoria mais aceita é a de que pequenos anéis de proteína no núcleo da célula funcionam como motores, que “alisam” as longas moléculas e as mantém girando sempre na mesma direção, agrupadas com outros trechos de DNA de função parecida. Mais ou menos – ah, que referência vintage! – como um autorama.

É mais fácil acompanhar essa explicação na animação psicodélica abaixo.

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O problema é que essas proteínas em forma de rosquinha são eficientes demais para ser verdade – elas teriam que consumir energia em um ritmo frenético para passar 24h por dia em sua tarefa árdua. São calorias demais para uma explicação só, e nenhum outro processo do corpo humano engorda tanto nossa conta de luz.

“Um amigo físico já me disse que esse é o Bóson de Higgs da minha área de pesquisa”, afirmou à Nature Leonid Mirny, do MIT. “Ele explica um dos maiores mistérios da genética, mas levará anos para ser provado.”

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Apesar da ressalva desanimadora, um número razoável de pesquisadores defende a teoria das rosquinhas proteicas mágicas hoje em dia. O fundador do clube é Kim Nasmyth, da Universidade de Oxford, que durante uma escalada no ano 2000, percebeu que uma proteína chamada coesina poderia ficar enrolada em torno de moléculas de DNA da mesma forma que um mosquetão de alpinismo desliza corda acima conforme alguém sobe uma montanha.

Cérebro de cientista não para nunca. A sacada de gênio não foi muito popular na época da publicação, mas o número de apoiadores cresceu com o tempo, assim como o número de experimentos, que se aproximam cada vez mais de provar a teoria.

O último deles é recente. Em fevereiro deste ano, testes com uma bactéria chamada Bacillus subtilis feitos por David Rudner, pesquisador de Harvard, pegaram uma coesina com a mão na massa: a espertinha foi capturada pelo radar percorrendo um longo filamento de DNA à velocidade de 50 mil bases nitrogenadas (A, G, C, T) por minuto. Essa correria bate com simulações de como deveria ser a atuação dessa proteína em seres humanos para evitar que o nosso material genético acabe embaraçado.

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À imprensa, o próprio Rudner afirmou que ficaria surpreso se o mecanismo fosse diferente no material genético humano – agora, só falta observar a mesma coisa acontecer dentro de nós.

17 anos de pesquisa depois, com a comprovação tão próxima, resta a pergunta: porque torrar tantos neurônios pensando nisso? Bem, manter seu DNA no lugar não é mero capricho. Mutações na coesina são responsáveis por alguns tipos de câncer e outros problemas de desenvolvimento em crianças. Entender como esse motor funciona nos permitirá, daqui alguns anos, consertá-lo quando for preciso – e evitar que seu material genético vire uma caixa de luzinhas de Natal recém-tiradas do armário (ou os fios da parte debaixo de uma mesa de escritório).

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