Como fazer uma pesquisa eleitoral (quase) infalível
Pergunte para o entrevistado em quem OS OUTROS vão votar. O método aumenta a precisão das pesquisas em 21%
Mais decepcionante que previsão do tempo, só pesquisa eleitoral. Mas se a estatística não pode fazer milagres, ela pode pelo menos aperfeiçoar suas técnicas. Um laboratório de ciência cognitiva do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, conseguiu aumentar a precisão das pesquisas de opinião pública usando uma técnica bem simples: perguntando às pessoas não só a opinião delas sobre um assunto, mas também qual elas acham que será a opinião do resto dos entrevistados. Em outras palavras, “eu vou votar no candidato A, mas acho que o candidato B vai ganhar”.
Esse pitaco na vida alheia deu certo: os resultados da pesquisa de pergunta dupla foram 21,3% mais precisos que pesquisas de maioria simples.
Fica mais fácil entender a mágica com um exemplo prático: muita gente pensa que a Filadelfia, maior cidade da Pensilvânia, também é a capital do estado. Mas tamanho nem sempre é documento – a sede do governo fica, na verdade, na pequena Harrisburg. Algo parecido com o que acontece com a Austrália, cuja capital não é Sidney, mas Canberra, bem menos popular. Usando esse exemplo, os cientistas tornam tudo mais fácil: eles já sabem que a opinião pública (Filadelfia) é diferente da verdade (Harrisburg). Agora é só usar os dois métodos de pesquisa, o tradicional e o novo, e ver qual dos dois chega mais perto do que as pessoas realmente pensam.
Quem acha que a capital é a Filadelfia imagina que todas as outras pessoas também pensam isso. Quem sabe que a capital é Harrisburg, porém, também sabe que há dúvida em torno do assunto — e irá prever, corretamente, que as outras pessoas que não conhecem tão bem o estado dirão Filadelfia. Em outras palavras, mesmo que só 70% da população ache que a capital é Filadelfia, quase 100% sabe que a maioria acha que a capital é Filadelfia. Bingo: levando a opinião de quem entende mais do assunto em consideração, a pesquisa corrige as limitações de uma maioria simples e chega mais perto da verdade.
A equipe do MIT testou o método em vários cenários: da especulação de preços de obras de arte aos diagnósticos de médicos dermatologistas. O método funcionou em todas. “A sabedoria popular, em geral, dá igual valor às pessoas”, explicou John McCoy, um dos membros do grupo, ao Phys.org. “Mas algumas pessoas tem conhecimento especializado. Se essas pessoas tiverem em mãos tanto a informação correta quanto senso correto de qual é a percepção do público, elas farão uma grande diferença”.