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Dá para mudar a personalidade?

Dizer que não dá para mudar é radical. Dizer que dá é mentiroso. Pois é... A resposta é mais complicada do que você pensa

Por Luisa Destri e Marina Bessa
Atualizado em 13 abr 2022, 14h00 - Publicado em 18 out 2009, 17h27

Imagine um sapato. Olhando o estilo e o estado, você é capaz de supor muita coisa sobre o dono. Dá para imaginar como ele se veste, do que gosta, se é sério ou descontraído. Dá para arriscar seu escritor favorito, se acredita em deus e até se faz o seu tipo. Sua personalidade é como esse sapato: um reflexo de como você se vê e de como é visto.

Para chegar a esse modelo de calçado, você fez muitas escolhas: filtrou influências, ouviu opiniões, testou conforto, analisou preço. Da mesma maneira, diversos fatores interferiram na formação da sua personalidade: seus pais, seus amigos, o lugar onde cresceu, o período em que viveu. E sua genética, claro, que, do mesmo jeito que deixa uma forma única no sapato, molda uma parte de você.

O resultado é um conjunto de padrões de comportamento bem difícil de ser explicado ou medido pela ciência. Desde o fim do século 18, muitas teorias foram criadas. Hoje, uma das mais aceitas é a dos Cinco Grandes Fatores, um modelo desenvolvido nos anos 1980 pelos americanos Robert McCrae e Paul T. Costa. Ela conseguiu de maneira simples e abrangente classificar os traços de personalidade reconhecidos tanto por especialistas quanto por leigos. Para criá-la, partiu-se da ideia de que todos os aspectos da personalidade humana estão registrados na linguagem que eu, você ou um habitante da Antártida usamos para definir alguém: implicante, falante, preguiçoso, organizado… Os pesquisadores juntaram os adjetivos possíveis e tentaram reuni-los em grandes famílias. Chegaram aos cinco fatores – extroversão, neuroticismo, abertura a experiências, consciência e afabilidade -, cada um com dezenas de traços psicológicos.

A extroversão reúne tudo o que diz respeito à sociabilidade: em um extremo estariam pessoas com muita disposição, otimismo e afetuosidade; no outro, as mais sérias e reservadas. Neuroticismo foi o termo encontrado para reunir características relacionadas à estabilidade emocional. O nível de ansiedade e irritabilidade, por exemplo, é retratado nesse grupo. Abertura a experiências é o que mede o interesse por experimentar muitas áreas diferentes. Dentro do fator consciência estão representados o senso de responsabilidade, a disciplina e o sentido prático. E o fator afabilidade basicamente diz como você se relaciona com outras pessoas – se é generoso, leal e sensível ou mais desconfiado e individualista. Teoricamente, todos os traços de personalidade poderiam ser encaixados em um desses grupos.

Essa padronização abriu caminho para o desenvolvimento de uma série de avaliações que tentam definir objetivamente a personalidade de alguém. Os testes medem os diversos traços em uma escala que vai de 1 a 5. No final, tem-se um retrato de quais são suas características dominantes e quanto elas são representativas na sua vida.

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(Maíra Valentim/Superinteressante)

Você é assim. E agora?

Isso significa que vai ser assim para sempre? Essa pergunta é o calo no pé dos estudiosos. Alguns dizem que, como o corpo, a personalidade muda ao longo do tempo. Outros rebatem que a personalidade seria como a cor dos olhos – se você nasceu com ela, vai morrer com ela. Para outros, o melhor paralelo é a altura: é desenvolvida até certa idade, depois estaciona. A última versão é a mais aceita pelos especialistas. Mas você terá mais que 18 anos para se definir. Na verdade, terá por volta de 30. Depois disso, pouca coisa vai mudar. “Esse limite é apenas uma época em que se considera que o adulto já é independente e maduro. Dependendo da pessoa ou da cultura em que ela foi criada, a definição da personalidade pode vir antes ou depois”, diz Maria Elisabeth Montagna, professora de psicologia da PUC-SP.

O ponto é que a partir dos 30 anos a sua personalidade tende a se congelar como é. Um estudo feito nos EUA com pessoas que 45 anos antes haviam respondido questionários sobre a sua personalidade mostrou que os hábitos cultivados na velhice poderiam ter sido previstos por traços identificados na juventude. Jovens que demonstravam ser criativos e liberais tinham se tornado velhos com hobbies artísticos e que preferiam programas alternativos. E os que na juventude eram mais conservadores e pés no chão viraram idosos que se divertiam costurando, cuidando do jardim e vendo shows de auditório.

Quer dizer, então, que exatamente quando chegamos à fase adulta, quando melhor nos conhecemos, já não é possível mudar nada? Não é bem assim. Mas a partir daqui, amigo, você vai ter que trabalhar com o que você tem. Dê uma olhada na pessoa 1, retratada em um dos gráficos ao lado. A bolota localizada bem no extremo inferior da parte marrom denuncia: é alguém passional, de humor instável, que costuma reagir antes de pensar. Passar para o outro lado do círculo e se tornar 100% controlada e fria é impossível. Mas ela pode, sim, aprender a prever suas emoções para evitar futuros arrependimentos. Seria, portanto, caminhar em direção ao centro do gráfico, suavizando uma característica inconveniente.

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Do mesmo jeito, quem é muito tímido jamais vai ser o piadista da turma, quem é muito conservador nunca usará uma camisa rosa-choque. Mas, com os trancos e as necessidades, dá para falar em público ou aceitar uma gravata rosada. Adaptar-se é uma questão de sobrevivência. O quanto você vai conseguir se adaptar é questão de força de vontade.

Como você é

Os gráficos abaixo são o resultado de um teste de personalidade de duas pessoas bem diferentes

1. Quadrantes
Cada cor aparece duas vezes: são os lados opostos do mesmo fator. Se de um lado o amarelo representa extroversão, do outro sinaliza introversão.

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2. Concentração
Quanto mais bolas no quadrante, mais representativo é aquele na sua personalidade. A pessoa 2 é provavelmente associada à criatividade e à inovação.

3. Posição
Quanto mais no extremo estiver um traço, mais forte ele é. Com vontade, dá para caminhar mais para o centro, mas dificilmente você passará para o lado oposto.

Pessoa 1: Cheia de extremos
O gráfico mostra uma personalidade forte: muito extrovertida, muito disciplinada, mas também muito ansiosa, chorona e facilmente irritável. Gente boa, mas pise na bola e você vai conhecer uma fera.

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Pessoa 2: Centrada e flexível
Mais discreta e maleável: a maioria dos traços está próxima ao centro. Mas um fator chama a atenção: ela é moderna e criativa. Parece desligada, mas, de repente, solta uma sacada genial.

Pense antes de casar

Mas nem sempre querer é poder. Se não conseguir mudar o seu temperamento, a pessoa 1, por exemplo, terá uma boa desculpa: os traços de personalidade relacionados ao neuroticismo são os mais difíceis de mudar. Aqui estão adjetivos como passional, irritável, vulnerável e ansioso.

Foram esses os principais motivos da infelicidade no casamento de 300 casais americanos que participaram de uma pesquisa publicada em 1987. O questionário, aplicado pela primeira vez em 1935 e mais uma vez 45 anos depois, demonstrou que instabilidade, reações explosivas e excesso de brigas exerciam influência muito maior nas crises dos casais que questões ligadas a trabalho, família ou sexo. E pior: mesmo cientes disso, a maior parte dos cônjuges não conseguiu se ajustar em prol do casamento.

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Você está achando tudo um exagero e acabou de pensar em casos em que o marido ficou mais organizado e amoroso ao longo dos anos. É possível. Mas não se case pensando neles. Mesmo em campos aparentemente mais moldáveis, como o da extroversão ou o da consciência, a mudança costuma ser tímida e tem que partir da outra pessoa, e não de você. Não conseguir mudar o outro é uma má notícia. Mas pense pelo lado bom: se o outro for você, pode não ser tão ruim assim. No fundo, permanecer mais ou menos igual é importante para o equilíbrio da nossa vida. Não dá para ser uma pessoa diferente a cada instante, simplesmente porque o mundo nos exige coerência. Você precisa saber quem você é, e os outros, o que esperar de você. Ou, mais do que flexível, você pareceria insano.

5 fatores

Segundo uma das teorias mais aceitas entre os psicólogos, tudo o que você é cabe dentro destes grupos. Veja alguns exemplos:

Extroversão
• Reservado x afetivo
• Tímido x sociável
• Quieto x falante
• Insensível x passional
• Discreto x alegre

Neuroticismo
• Tranquilo x tenso
• Constante x instável
• Satisfeito x autopiedoso
• Racional x emocional
• Seguro x inseguro

Abertura
• Realista x imaginativo
• Convencional x original
• Rotina x variedade
• Pouco curioso x curioso
• Conservador x liberal

Afabilidade
• Cruel x piedoso
• Duvidoso x confiável
• Mesquinho x generoso
• Crítico x tolerante
• Rude x cortês

Consciência
• Negligente x responsável
• Preguiçoso x trabalhador
• Bagunceiro x organizado
• Atrasado x pontual
• Acomodado x ambicioso

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