Desconfiamos mais dos políticos quando estamos com sono
Fica mais difícil dar trela para discursos carismáticos depois de uma noite mal dormida.
O carisma está entre entre as características mais importantes para um político. Natural, treinado ou fingido, o carisma estimula o respeito e o orgulho entre os seus seguidores e até passa a impressão de que o líder tem uma “missão extraordinária” – o próprio Hitler chegou tão longe por, infelizmente, ser um líder carismático.
Mas existe um antídoto comprovado até para o maior dos carismas: o sono. Nem a mais trabalhada retórica é capaz de inspirar um público sonolento, comprovou um estudo americano publicado no Journal of Applied Psychology.
Para medir o impacto dos Zzzs da nossa opinião sobre políticos, os pesquisadores convocaram líderes estudantis para simular discursos cativantes. As cenas foram filmadas e cada vídeo recebeu uma nota quanto ao nível de carisma dos “políticos”.
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Depois, os cientistas mostraram os vídeos a outros estudantes, divididos em dois grupos. O primeiro, na noite anterior ao estudo, acordou de hora em hora, das dez da noite às cinco da manhã, para preencher uma pesquisa. O outro grupo teve direito a uma noite normal de sono.
Chegando no laboratório, cada participante assistiu a três vídeos: um com um líder muito carismático, outro com um orador moderado e outro com uma performance ruim. Depois, eles deram suas próprias opiniões sobre o nível de carisma do político que falou.
No resultado, não importou a qualidade do discurso: quem não dormiu direito a noite deu notas muito piores aos líderes do que o grupo que teve uma boa noite de sono.
O impacto é muito maior do que um simples mau humor matinal. Nossa percepção sobre o carisma de uma pessoa influencia o quanto estamos dispostos a aceitar sua autoridade. O que o estudo indica é que uma única madrugada agitada aumenta a desconfiança e diminui o respeito pelo líder sem que nada no seu próprio comportamento tenha mudado.
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Os pesquisadores destacam ainda que quem não dorme dificilmente reconhece que seu comportamento estranho no dia seguinte está relacionado com a falta de sono e preferem atribuir as sensações negativas a outras razões. É isso que eles acham que acontece com os políticos: o cidadão insone transfere seu sentimento ruim para o líder e atribui os efeitos da falta de sono à falta de carisma.
E não é só o público que é afetado pelo sono. Além dos vídeos usados no primeiro experimento, os cientistas tinham outros 80 discursos de líderes estudantis gravados. Metade dessas fitas mostravam universitários que também tinham passado a madrugada respondendo pesquisas. As consequências foram claras: o líder que não dormiu direito teve avaliações muito piores que os bem dormidos.
Isso porque, para dar uma boa impressão ao público e fazer um discurso emocionante, o político precisa usar o centro emocional do cérebro, a amígdala. Sono de má qualidade afeta a atividade dessa área cerebral, dificulta as conexões entre diferentes regiões do cérebro e piora o autocontrole. Assim, fica difícil reproduzir um discurso que seja, ao mesmo tempo, bem ensaiado e contagiante.
A combinação dos dois experimentos confirmaram o que os pesquisadores esperavam: com a falta de sono, você fica cansado demais tanto para inspirar quanto para ser inspirado.