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Desconfiamos mais dos políticos quando estamos com sono

Fica mais difícil dar trela para discursos carismáticos depois de uma noite mal dormida.

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 28 jun 2016, 19h00

O carisma está entre entre as características mais importantes para um político. Natural, treinado ou fingido, o carisma estimula o respeito e o orgulho entre os seus seguidores e até passa a impressão de que o líder tem uma “missão extraordinária” – o próprio Hitler chegou tão longe por, infelizmente, ser um líder carismático.

Mas existe um antídoto comprovado até para o maior dos carismas: o sono. Nem a mais trabalhada retórica é capaz de inspirar um público sonolento, comprovou um estudo americano publicado no Journal of Applied Psychology.

Para medir o impacto dos Zzzs da nossa opinião sobre políticos, os pesquisadores convocaram líderes estudantis para simular discursos cativantes. As cenas foram filmadas e cada vídeo recebeu uma nota quanto ao nível de carisma dos “políticos”.

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Depois, os cientistas mostraram os vídeos a outros estudantes, divididos em dois grupos. O primeiro, na noite anterior ao estudo, acordou de hora em hora, das dez da noite às cinco da manhã, para preencher uma pesquisa. O outro grupo teve direito a uma noite normal de sono.

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Chegando no laboratório, cada participante assistiu a três vídeos: um com um líder muito carismático, outro com um orador moderado e outro com uma performance ruim. Depois, eles deram suas próprias opiniões sobre o nível de carisma do político que falou.

No resultado, não importou a qualidade do discurso: quem não dormiu direito a noite deu notas muito piores aos líderes do que o grupo que teve uma boa noite de sono.

O impacto é muito maior do que um simples mau humor matinal. Nossa percepção sobre o carisma de uma pessoa influencia o quanto estamos dispostos a aceitar sua autoridade. O que o estudo indica é que uma única madrugada agitada aumenta a desconfiança e diminui o respeito pelo líder sem que nada no seu próprio comportamento tenha mudado.

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Os pesquisadores destacam ainda que quem não dorme dificilmente reconhece que seu comportamento estranho no dia seguinte está relacionado com a falta de sono e preferem atribuir as sensações negativas a outras razões. É isso que eles acham que acontece com os políticos: o cidadão insone transfere seu sentimento ruim para o líder e atribui os efeitos da falta de sono à falta de carisma.

E não é só o público que é afetado pelo sono. Além dos vídeos usados no primeiro experimento, os cientistas tinham outros 80 discursos de líderes estudantis gravados. Metade dessas fitas mostravam universitários que também tinham passado a madrugada respondendo pesquisas. As consequências foram claras: o líder que não dormiu direito teve avaliações muito piores que os bem dormidos.

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Isso porque, para dar uma boa impressão ao público e fazer um discurso emocionante, o político precisa usar o centro emocional do cérebro, a amígdala. Sono de má qualidade afeta a atividade dessa área cerebral, dificulta as conexões entre diferentes regiões do cérebro e piora o autocontrole. Assim, fica difícil reproduzir um discurso que seja, ao mesmo tempo, bem ensaiado e contagiante.

A combinação dos dois experimentos confirmaram o que os pesquisadores esperavam: com a falta de sono, você fica cansado demais tanto para inspirar quanto para ser inspirado.

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