E se as ruas não fossem públicas?
As vias estariam em melhores condições. Mas teríamos bem menos liberdade para circular por aí
Se essa rua fosse minha, eu faria uma cidade nova. É que há uma lei que diz que só pode ser fechada a rua com certas características, como ser de vila. Os grandes condomínios onde moradores fazem quase tudo apontam como seria. Se uma metrópole fosse formada apenas por bairros assim, a vida seria diferente. Teríamos uma cidade totalmente planejada. E as vias que ligassem esses bairros seriam administradas por empresas em esquema de concessão, como as estradas. E, com as empresas focadas em blocos pequenos, a administração ia ser mais efetiva. Praças abandonadas, ruas sem luz? Raridade.
Além disso, haveria mais segurança, grande mantra dos moradores de condomínio. Outra vantagem são os congestionamentos, que diminuiriam, pois, para o negócio ser viável, a cidade teria pedágio urbano. É o que diz Creso Peixoto, engenheiro do Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo (SP). Para ele, pedágio urbano bom é o que dói no bolso e desestimula a sair de carro. Santiago, no Chile, virou referência mundial ao instalar um sistema de vias privatizadas com cobrança automática: passou pelo radar, caiu na conta. E o motorista paga proporcionalmente, de acordo com o quanto roda.
Mas haveria um problema nisso tudo: fechar ruas bate de frente com a natureza humana de ir e vir. É o que acontece nas praias particulares. Por lei, praia particular é proibido. Por isso, condomínios fechados na praia devem ter um acesso à população. E, muitas vezes, esses acessos são entradas apertadas e escondidas, limitando e desencorajando as pessoas. Possivelmente, ruas fechadas trariam problemas assim. Ficaríamos na mão das administradoras. E viveríamos presos em um enorme condomínio.
Fontes: Creso de Franco Peixoto, professor de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana); Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela USP.