E se… Cuba tivesse sido anexada pelos americanos?
Não é exagero dizer: a história do mundo mudaria. Se os Estados Unidos tivessem anexado Cuba na década de 50, a guerrilha talvez nem se fizesse necessária.
Não é exagero dizer: a história do mundo mudaria.
A começar pela própria ilha, que provavelmente não seria socialista nem teria Fidel Castro como seu dirigente. Antes da revolução cubana de 1959, com o aval de uma emenda constitucional chamada Emenda Platt, os americanos entravam e saíam da ilha quando bem entendiam, controlavam as empresas produtoras de frutas e cana-de-açúcar e se esbaldavam durante o dia nas praias e à noite nos cassinos. Do jeito que as coisas iam, era de se esperar que Cuba se tornasse o 51º estado norte-americano – caso Fidel e seu exército de guerrilheiros não tivessem tomado o poder em 1º de janeiro de 1959.
Se os Estados Unidos tivessem anexado Cuba em meados da década de 50, a guerrilha talvez nem se fizesse necessária. “Os EUA não precisariam manter uma relação colonial com Cuba e a deterioração da sociedade não ocorreria. Assim, as condições materiais não seriam tão ruins a ponto de suscitar um golpe armado”, afirma o historiador Newton Duarte Molon, da USP. Além disso, os instrumentos de coerção dos americanos para acabar com qualquer tentativa de guerrilha seriam bem mais fortes.
No contexto mundial, muita coisa mudaria. A União Soviética não teria uma base na América e, portanto, não levaria ogivas nucleares para perto dos Estados Unidos. E o planeta não viveria dias tão tensos quanto os 13 de 1962 conhecidos por Crise dos Mísseis – nos quais a ameaça de uma guerra mundial nuclear nunca foi tão real. Na opinião da pesquisadora Claudia Furiati, autora do livro Fidel Castro, uma Biografia Consentida, a União Soviética ficaria quietinha em seu canto. “Ela jamais se interessou em estimular a revolução nas Américas, porque a ‘repartição’ do mundo em blocos e áreas de influência estava dada”, diz.
Veja abaixo as possíveis manchetes de um dia qualquer de julho de 2004 no Havana Tribune, o principal jornal diário do estado americano de Cuba.
Senador Castro fala por 9 horas
Sem ter motivos nem condições de comandar o levante armado, Fidel Alejandro Castro Ruz poderia se tornar um advogado ou um juiz. “Assim, ele aproveitaria sua retórica fantástica”, afirma o historiador Newton Molon. William Leo Grande, professor de política internacional da Universidade Americana, na Virgínia, Estados Unidos, vai além: “Fidel poderia ser governador de Cuba e, depois, eleito para o Congresso norte-americano. Como não há tempo limite para os discursos, ele bateria recordes”.
Coração mata ex-presidente John Kennedy
O político americano poderia nem ter sido baleado em Dallas. Uma das teorias de conspiração sobre a morte de JFK, ocorrida em 22 de novembro de 1963, é que ela foi relacionada à CIA, o serviço de inteligência americano. Tudo por causa de uma fracassada invasão à baía dos Porcos, em Cuba, em 1961 – quando vários americanos foram presos e mortos.
Buena Vista ganha 8º Grammy
O grupo Buena Vista Social Club, formado por alguns dos melhores músicos da velha guarda cubana, teria destaque semelhante ao dos Rolling Stones se contasse com o esquema de divulgação americano. Megastars, os músicos fariam apresentações, por exemplo, na final do Superbowl e ganhariam vários Grammy (não apenas o de 1996). Com a influência musical cubana mais forte, os americanos também dançariam melhor e teriam mais molejo.
Cuba lança charuto de baunilha
Com investimentos altíssimos por parte do governo americano, o tabaco cubano estaria superglobalizado. As pessoas fumariam charutos em qualquer esquina. Os cubanos apreciariam seus havanas dentro de carrões luxuosos do último tipo – afinal, a ilha caribenha não seria o paraíso dos modelões anos 50.
Viagem de Dr. Guevara vira filme
Ernesto “Che” Guevara, em vez de passar anos ao lado de Fidel em Sierra Maestra, voltaria para a Argentina, seu país natal, para dedicar-se à medicina. De vez em quando, faria novas viagens de motocicleta pela América. Anos depois, já idoso, poderia abrir seu diário de viagens para um cineasta brasileiro.