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E se jogador de futebol não fosse profissão?

O esporte seria parecido com o de cem anos atrás. Teríamos uma TV e cinema diferentes e provavelmente seríamos fãs de bolas ovais

Por Giselle Hirata
Atualizado em 25 jul 2017, 15h54 - Publicado em 17 fev 2014, 22h00

Kaká seria pastor e Cristiano Ronaldo seria pedreiro, como ambos já falaram em entrevistas. Não haveria craques ídolos como hoje. Como entretenimento, o futebol seria minguado. Como esporte, um jogo de várzea, com times formados com a turma da fábrica, do clube… Não muito diferente do princípio do esporte. O Manchester United, por exemplo, foi fundado em 1878 por operários da Lancashire and Yorkshire Railway. E o primeiro jogo no Brasil, em 1895, em São Paulo, foi entre funcionários da Companhia de Gás e da Ferroviária São Paulo Railway.

A maioria jogaria por diversão. “Alguns até pagavam para jogar”, diz o jornalista Celso Unzelte, pesquisador e comentarista esportivo. “O profissionalismo, no Brasil, é de 1933. Antes já existia o amadorismo marrom, com jogadores ganhando por fora. Isso acelerou o processo de profissionalização”. Ou seja, o que começou com alguém bancando a cerveja do Juca do RH, artilheiro da firma, para ficar no seu time, acabou em caixinhas anuais de R$ 20 milhões – pelo menos no caso de Neymar.

Nenhum jogador abandonaria seu emprego, claro. Antigamente, na ficha de inscrição dos clubes, havia um campo para a ocupação. “Neco, ídolo do Corinthians que jogou de 1913 a 1930, era marceneiro”, diz Unzelte. Alguns até seriam garotos-propaganda – claro, não como Pelé, um dos maiores astros publicitários da história. Leônidas da Silva, craque da Copa de 1938, promoveu cigarro, relógio, goiabada e o chocolate batizado com seu apelido, Diamante Negro. Mesmo assim, dificilmente um jogador amador seria astro de campanha, com ídolos em tantas áreas como hoje, de blogs de moda a MMA.

A segregação seria ainda maior no País. Segundo o sociólogo Bernardo Buarque de Hollanda, o futebol tem um papel social importante por proporcionar sonhos a jovens pobres. “Ele reconhece os que têm uma melhor performance, sem classificações costumeiras que favorecem muitas vezes os mais ricos”.

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Com isso tudo, a maioria das pessoas optaria por outras formas de entretenimento. “Em 1947, o Ibope mostrou que, no Rio, o cinema era tão popular quanto o futebol”, lembra Hollanda. Então, o Brasil possivelmente teria mais salas de cinema hoje em dia. E nós, outra paixão nacional. Talvez o rúgbi. “Nasceu praticamente junto com o futebol, tem características semelhantes e é forte da Inglaterra à Argentina”, diz Unzelte. A televisão também mudaria um pouco, sem sua programação futebolística. “No caso dos canais abertos, acredito que os programas de auditório iriam preponderar”, diz Hollanda. Sem mesas redondas, teríamos mais videocassetadas no domingão.

Fontes: Bernardo Buarque de Hollanda, sociólogo do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da FGV; CBF; Celso Unzelte, jornalista, pesquisador e comentarista esportivo; Comissão técnica da Copa Kaiser; Erich Betting, jornalista e diretor da Máquina do Esporte; Federação Paulista de Futebol; Fifa.

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