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Maconha é a porta de entrada para drogas mais pesadas

Pode até ser, mas a verdade é que a maioria dos usuários nunca experimentou - nem vai experimentar - outros entorpecentes

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 25 fev 2011, 22h00

Texto Mariana Sgarioni

Quem hoje fuma maconha amanhã estará cheirando cocaína.” Essa afirmação é comum tanto em programas de TV e debates políticos quanto em salas de espera e mesas de botequim. Trata-se de um dos mitos mais populares do mundo, que acabou virando “verdade” de tanto ser repetido. Não colabore com a sua perpetuação. A verdade é que a maioria dos usuários de maconha nunca experimentou e nem vai experimentar outra droga ilícita.

O que leva à conclusão equivocada de que um simples baseado abre o caminho mais curto para outras drogas é a hierarquia natural da experimentação. Raramente alguém usa cocaína pela primeira vez sem jamais ter provado alguma bebida alcoólica ou um cigarro comum de tabaco. No entanto, álcool e nicotina nunca foram tachados de “porta de entrada” para substâncias mais pesadas. Se você pensar bem, faz sentido que a primeira droga ilícita usada por uma pessoa seja a maconha, pois ela é a mais barata e disponível. Mas pode acreditar: não existe nada num baseado que estimule o usuário a procurar drogas mais fortes em seguida.

“Estudos indicam que mais da metade dos consumidores de maconha não usa outras drogas e faz uso apenas esporádico da erva”, afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Atenção a Dependentes Químicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A maioria consome a droga só de vez em quando, e 90% acabam por abandoná-la um dia.”


Legalizar ou não?

A legalização da maconha na Holanda, há mais de 30 anos, também produziu resultados que depõem contra a tese da “porta de entrada”. Ao transferir a venda da erva para estabelecimentos conhecidos e fiscalizados (os coffee shops), o governo holandês afastou o consumidor dos traficantes – esses, sim, os grandes incentivadores do consumo de outras drogas, como cocaína e heroína, cujo comércio é muito mais rentável. Resultado: o número de jovens usuários de maconha continuou o mesmo de sempre, mas o de drogas pesadas diminuiu – prova de que a Cannabis não necessariamente leva a outros entorpecentes.

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Segundo a dupla de pesquisadores americanos Robert MacCoun e Peter Reuter, autores do livro Drug War Heresies (“Heresias da Guerra Contra as Drogas”, sem edição no Brasil), a Holanda hoje é um dos 10 países europeus com menor número de usuários de heroína. Um alívio, pelo menos para quem frequentou o topo da lista nos anos 70.


Da erva ao pó

Estudo feito nos EUA em 1994 revelou que apenas 1% dos maconheiros virava consumidor regular de cocaína
• Para cada 100 americanos que fumaram um cigarro de maconha…
• …apenas 28 também acabaram experimentando cocaína depois.
• Desses 28, só 12 usaram cocaína 10 vezes ou mais.
• Dos 12, apenas 5 fizeram uso de cocaína mais de 100 vezes.
• E, desses 5, só 1 passou a usar cocaína pelo menos uma vez por semana.

Porta de saída
Maconha ajuda dependentes de crack a se livrar do vício

Se não é a porta de entrada, a maconha pode ser a porta de saída de drogas pesadas. Pelo menos é o que sugere um estudo coordenado pelo psiquiatra Dartiu Xavier. Ele incentivou dependentes de crack a usarem Cannabis como parte de um programa para livrá-los do vício. O resultado foi surpreendente: cerca de 70% abandonaram o crack e, depois, pararam espontaneamente com a maconha. “Foi quase um remédio”, afirma Xavier. “A maconha estimula o apetite e reduz a ansiedade, dois problemas sérios na vida de um cacainômano.”

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