Meme do namorado distraído é usado em publicidade e acusado de machismo
Na Suécia, a famosa imagem não foi bem vista em um contexto de mercado de trabalho. Entenda a polêmica
No dicionário, meme significa “imagem, informação ou ideia que se espalha rapidamente através da internet, correspondendo geralmente à reutilização ou alteração humorística ou satírica de uma imagem”. Perceba que na definição da palavra já temos o habitat natural do meme: a internet. Ali, em um contexto de ironia/brincadeira nas redes sociais, ele funciona perfeitamente. Mas tirar ele desse lugar específico pode causar uma baita confusão.
Foi o que aconteceu na Suécia. E com o meme do “namorado distraído”. Lembra dele? Eleito o melhor meme de 2017, ele era um dos melhores naquela categoria essencial aos bons memes: a versatilidade. Com o “namorado distraído” dava para zoar desde música até política.
Na imagem do meme, um rapaz de mãos dadas com a namorada vira de costas descaradamente para prestar atenção em outra mulher, enquanto sua companheira está indignada com a cena. Apesar de popular, a imagem já havia sido acusada de machista por muitas mulheres. Quando aplicado em um ambiente mais sério, a situação piorou.
O caso em questão foi um anúncio de emprego da Bahnhof, uma provedora de serviços de internet de Estocolmo, Suécia. Na propaganda, o meme é utilizado com “você” escrito no rapaz, o nome da empresa anunciante na mulher que está sendo observada (ou seja, como algo cobiçado), e “seu local de trabalho atual” atribuído a namorada do rapaz. Pode até ter parecido uma boa ideia para o publicitário que teve a sacada, mas a recepção não foi a esperada. Confira abaixo a imagem:
Usuários do Facebook que viram o anúncio acabaram denunciando a propaganda ao órgão que monitora a publicidade no país. Na visão dos denunciantes, o anúncio “retrata as mulheres como objetos intercambiáveis, como se apenas a sua aparência fosse interessante.”
O comunicado (que você pode conferir aqui numa tradução para o inglês) afirma que “a propaganda objetifica as mulheres”. E acrescenta: “Mostra papéis de gênero estereotipados e degradantes de homens e mulheres, e dá a impressão de que os homens podem mudar de parceira quando mudam de emprego”.
O relatório ainda afirma que a imagem da publicidade manchou as duas mulheres, pois enquanto elas são apenas “locais de trabalho”, o homem é visto como um “indivíduo” mesmo. Além disso, a “outra mulher” era claramente um “objeto sexual não relacionado ao anúncio, que é para recrutar vendedores, engenheiros operacionais e um web designer ”.
A propaganda, publicada em abril, atraiu muitos comentários de mulheres se queixando do machismo. “1. Você realmente não quer atrair mulheres para sua empresa; 2. Você realmente não quer atrair caras sensatos”, escreveu uma usuária em um comentário.
A Bahnhof se justificou em sua página no Facebook e parece não ter visto com bons olhos a crítica. “O objetivo era ilustrar uma situação que mostrasse que a empresa é um empregador atraente, e que pessoas que têm um local de trabalho um pouco mais sem graça poderiam estar interessadas em nós. Essa foi a situação mostrada neste meme. Qualquer pessoa familiarizada com a internet e a cultura memética sabe como esse meme é usado e interpretado. O gênero geralmente é irrelevante nesse contexto.” E ainda completava: “se a empresa deveria ser punida por qualquer coisa, deveria ser por usar um meme velho”.
Como você pode imaginar, não pegou muito bem e a empresa precisou lidar com mais uma enxurrada de críticas.
E, de fato, a Bahnhof não foi punida: a indústria publicitária sueca é autorregulada, o que significa que o órgão pode criticar os anúncios, mas não tem o poder de impor nenhum tipo de sanção.
No fim, o que se pode tirar dessa história toda é que é bom não tirar as coisas de seu contexto. Deixem os memes em paz na internet e não os transformem em peças publicitárias. E, se a sua empresa mandou mal nas redes sociais, muitas vezes o melhor a se fazer é ficar quieto em vez de dar uma resposta “espertinha”.