Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Esta menina aí ao lado é a Aurora. A cor dela está meio estranha porque a foto foi tirada por um aparelho de ultrassonografia. No momento em que escrevo este texto, Aurora está aconchegada do lado de dentro do útero quentinho de minha esposa. Mas, quando você estiver lendo isto, ela provavelmente vai estar aqui do lado de fora, no mundão.
Às vezes meu coração de quase-pai se enche de amargura: quando penso que o futuro de minha filha depende, em grande parte, dos nossos políticos. No país onde Aurora vai nascer, o homem responsável por zelar pelos direitos dela é um homofóbico racista. O sujeito cuja responsabilidade é garantir que o meio ambiente dela não seja destruído é um dos maiores desmatadores da história. A maioria dos cargos de maior poder nas duas casas do Congresso em Brasília é ocupada por gente sobre a qual paira todo tipo de suspeita, da mera ladroagem à participação ativa em homicídio.
Claro que, quando penso nessas coisas, fico indignado. E tenho fantasias violentas – labaredas lambendo o Congresso Nacional. Mas, por mais que essa indignação seja compreensível, tanto ódio é um erro. A solução não é matar todos os políticos, nem fechar o Congresso, nem abrir mão da democracia. Todas as lições da história mostram que, se algo assim acontecesse, quem mais iria sofrer seríamos nós, cidadãos – seria a Aurora, que teria seu futuro comprometido num ambiente de instabilidade e autoritarismo.
O que este país precisa é de uma política melhor. É de uma democracia melhor. É de um sistema que, ao contrário desse que temos hoje, selecione as melhores pessoas para nos governar. Que realmente sirva ao país – a todos e a cada um de nós.
É sobre isso a matéria de capa desta edição, que começa na página 38. Com uma reportagem criativa e inédita do Maurício Horta, um infográfico revelador projetado pelo Rafael Quick e uma edição primorosa da Karin Hueck, juntando tudo de maneira clara e divertida, o resultado me encheu de orgulho. Garanto: é uma matéria diferente de tudo que você já leu.
O mesmo pode ser dito do texto que começa na página 64 – finalmente revelamos o que acontece no inferno de Guantánamo, pelos olhos de alguém que o conheceu do lado de dentro, como prisioneiro. Não é uma reportagem comum, você vai ver.
Enfim, a edição está especial. Espero que você goste – ela foi feita para você.