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A Escavação: a história real por trás do filme da Netflix

Em 1938, uma mulher resolveu contratar um escavador para explorar o seu terreno. A descoberta arqueológica deles foi considerada uma das mais importantes do século 20. Entenda.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 12 Maio 2023, 14h47 - Publicado em 4 fev 2021, 18h49

Descobertas arqueológicas são sempre surpreendentes. Agora, imagine encontrar a maior e mais importante delas no quintal de sua casa. Foi o que aconteceu com Edith Pretty, uma britânica viúva que viveu durante o século 20. Sua história, que foi retratada pelo sobrinho John Preston no romance A Escavação, em 2017, está agora eternizada em um filme homônimo da Netflix. 

No longa, Edith Pretty (Carey Mulligan), contrata o escavador Basil Brown (Ralph Fiennes) para desvendar quais tesouros existem sob seu terreno na propriedade de Sutton Hoo, próxima de Suffolk, no Reino Unido. A viúva tem um interesse prévio por arqueologia e explica, inclusive, que a compra da casa foi motivada pela existência de um sítio arqueológico. Ela esperava encontrar um cemitério viking, mas acabou descobrindo um barco funerário e diversos artefatos anglo-saxões.  

O filme, claro, toma diversas liberdades criativas: o romance entre os personagens de Lily James e Johnny Flynn, por exemplo, é pura ficção. Mas a descoberta arqueológica aconteceu de verdade – e foi revolucionária.

Edith e seu marido, Frank Pretty, compraram a casa em 1926. Os dois tinham interesse em arqueologia e havia lendas locais sobre os artefatos enterrados ali. Mas Frank faleceu em 1934, deixando a esposa sozinha com um filho pequeno e sem levar os planos de escavação adiante. 

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Cena do filme
Edith Pretty contrata Basil Brown, um arqueólogo amador, para explorar os montes deixados por povos antigos em seu terreno. (Larry Horricks / Netflix © 2021/Divulgação)

Quatro anos depois, aos 56 anos, a Edith contrata Basil Brown para escavar o local. Brown foi indicado pelo Museu de Ipswich, em Suffolk, onde já havia atuado como arqueólogo, mesmo sem formação. Ele era um autodidata, e aprendeu arqueologia, astronomia e diversos idiomas ao longo da vida.

Havia alguns montes espalhados pelo território. Brown começou por um dos menores, em junho de 1938, onde encontrou três túmulos. Depois, pediu reforço, e outros escavadores amadores foram trabalhar no local.

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Em 1939, iniciaram-se as escavações no monte maior. Lá, o primeiro achado foi o rebite de barco, um tipo de parafuso aplicado em estruturas do tipo. Com isso, ligaram os pontos: o que havia sob o solo era nada menos do que um navio funerário de 1,4 mil anos de idade, da época em que a Grã-Bretanha era habitada pelos anglo-saxões. 

Com 27,4 metros de comprimento, a embarcação foi a maior já encontrada enterrada no solo. Brown logo identificou o que parecia ser a câmara mortuária, local em que o defunto era colocado junto às suas riquezas. Pesquisadores do Museu Britânico, que já estavam sabendo da escavação, correram para Sutton Hoo e se envolveram na descoberta.

No total, foram desenterrados 263 objetos preciosos, entre capacetes com rostos humanos, armas, utensílios domésticos e moedas. Estas últimas ajudaram a datar o tesouro.

Não se sabe ao certo a quem pertencia o túmulo, mas provavelmente era um guerreiro importante. Enterrar pessoas junto a barcos era uma prática comum naquela época (e que foi sumindo com o tempo). Mas, neste caso, o esforço foi além do normal: a embarcação foi arrastada do rio Deben, que fica próximo à propriedade, e colocada em um enorme buraco previamente cavado. Ufa!

Além disso, a qualidade do tesouro deixado dá a entender que o morto, provavelmente, era alguém bastante relevante. Ligando a data aos fatos, os pesquisadores sugeriram que o sujeito possa ser Redualdo, rei da Ânglia Oriental – um reino anglo-saxão que incluía os condados de Norfolk e Suffolk entre os anos 599 e 624.

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A descoberta foi revolucionária, e chegou a ser chamada de “Tutancâmon britânico” – uma referência à tumba do famoso rei egípcio, achada em 1923. Afinal, os pesquisadores consideravam até então que os anglo-saxões um povo atrasado e pouco desenvolvido. Mas a ideia que caiu por terra após a chegada das evidências: os artefatos, que depois foram atribuídos ao Império Bizantino e ao Oriente Médio, remetem a uma sociedade que admirava a arte e possuía ambições comerciais.

Edith Pretty doou todo o material para o Museu Britânico, que guarda uma exposição com as peças até hoje. Mas não pense que as escavações pararam depois disso: o barco foi o maior achado, mas todo o território foi, antigamente, um cemitério. Elas continuaram até o início dos anos 1990. Mesmo assim, nem tudo foi explorado, e ainda há um pedaço de Sutton Hoo esperando por expedições de novos arqueólogos. 

O filme da Netflix traz ainda diversas questões reais sobre a arqueologia. Ele indica, por exemplo, como os coelhos da região poderiam ter prejudicado o tesouro, já que andam por debaixo da terra e poderiam ter roído os artefatos. Mostra também como a chuva atrapalhava as escavações e como Pretty e Brown correram contra o tempo para que a exploração terminasse antes da 2ª Guerra Mundial.

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Por sorte, o trabalho terminou pouco antes da Alemanha entrar em guerra contra o Reino Unido. Os objetos encontrados foram guardados dentro de túneis do sistema ferroviário de Londres, onde ficaram protegidos durante o combate.

O filme está no catálogo da Netflix desde o dia 29 de janeiro. Veja o trailer:

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