Cenário virtual é alternativa para gravações durante pandemia
Utilizada em séries como “The Mandalorian”, do Disney+, tecnologia chega agora ao Brasil – e pode perdurar para depois da Covid.
Criado nos anos 1940, o chroma key, aquele fundo verde usado em sets de filmagem, revolucionou o cinema. Até hoje, é a técnica usada para unir atores a cenários imaginários. Mas pode ser que ela esteja com os dias contados.
Agora, grandes telas de LED podem dar conta do recado e, ainda, facilitar o trabalho da equipe de pós-produção. O que está chegando por aqui é cenário virtual, uma tecnologia que recria espaços e permite que as cenas sejam gravadas com as paisagens já reproduzidas na tela.
A tecnologia chegou recentemente ao Brasil, e fomos até um estúdio na zona sul de São Paulo para entender como as coisas funcionam.
A estrutura é básica: um galpão equipado com três grandes painéis de LED, dois computadores para controlá-los e uma câmera. Claro que a quantidade de equipamento deve condizer com o serviço a ser oferecido, mas os poucos objetos na sala já seriam suficientes para um trabalho satisfatório. Para compreender melhor, veja o vídeo abaixo, que utiliza a nova tecnologia:
Como num jogo
A partir do Unreal Engine, um software de programação de games usado em jogos como Fortnite, a equipe de direção cria cenários 3D exclusivos para serem exibidos nos telões de LED. Os cenários são produzidos em 360º, para tornar a movimentação mais real. Então, usando um equipamento de rastreio virtual, ajusta-se às câmeras aos painéis e, conforme elas mudam de posicionamento, o cenário também se move para acompanhá-las.
O resultado final pode até ser parecido com o de imagens feitas utilizando chroma key, mas a facilidade oferecida pelos painéis de LED é maior. Diego Lopes, um dos diretores da V-Canvas, que constrói cenários virtuais, explica que a tecnologia reduz o tempo de pós-produção. “Como conseguimos captar quase que o resultado final naquele momento, sobra um pequeno processo de edição e correção de cor.”
Com um óculos de realidade aumentada, os diretores de arte e fotografia conseguem ainda “entrar” na cena durante as gravações para fazer alguns retoques, assim como, em um cenário físico, eles poderiam mudar um objeto ou lâmpada de lugar.
Para além da pandemia
Por recriar cenários em espaços controlados e sem a necessidade de grandes equipes, o recurso se mostrou ideal para o momento de pandemia. Mas há indícios de que a tecnologia deve perdurar mesmo após a Covid.
The Mandalorian, série do serviço de streaming Disney+ e que se passa no universo de Star Wars, pode ser considerada precursora no uso dessa tecnologia em larga escala – ela foi empregada já em sua primeira temporada, em 2019, antes do mundo sequer pensar no novo coronavírus. Confira os bastidores:
Os cenários, vale dizer, não precisam ser fictícios – o recurso consegue usar também locações de verdade. Se um diretor quiser reproduzir uma estação de metrô ou um parque da cidade, por exemplo, basta usar uma tecnologia óptica chamada LIDAR para escanear o local, torná-lo tridimensional e inseri-lo no sistema.
A tecnologia recém trazida ao Brasil está aberta para aqueles que queiram produzir filmes, propagandas ou outros produtos audiovisuais. Mas, afinal, a ela é mais barata que o bom e velho fundo verde?
Lopes diz que isso vai depender do tipo de produção e de seus respectivos orçamentos. “Ao utilizar os painéis de LED, os projetos poderão reduzir a quantidade de equipamentos de luz a serem alugados e o tamanho da equipe, por exemplo.”Outra vantagem, segundo o diretor, está na logística das filmagens, já que diversos lugares podem ser reproduzidos em um mesmo espaço. “Às vezes, em diárias de dez, doze horas, perde-se metade do tempo com deslocamentos.”