Como funciona a Norland, a faculdade de babás que atende a família real britânica?
Conhecidas como "uma mistura de Mary Poppins e James Bond", as profissionais formadas pela instituição britânica atendem à elite global desde o século 19.

Uma “mistura de Mary Poppins e James Bond”. É assim que a imprensa britânica costuma chamar as babás formadas pela Norland College.
Fundada em 1892, em Londres, a instituição nasceu com a proposta de transformar o cuidado infantil em uma profissão respeitada e altamente qualificada. É de lá que saem as profissionais que atendem à elite global, incluindo a família real do Reino Unido.
Desde então, a escola conquistou prestígio por sua abordagem pioneira e exigente, com métodos que mesclam pedagogia, etiqueta e técnicas de proteção dignas de serviços secretos.
A fundadora, Emily Ward, foi uma educadora influenciada pelas ideias de Friedrich Froebel, criador do conceito de “jardim de infância”. Sua proposta era clara: a profissão de babá deveria ser tratada com o mesmo rigor de qualquer outro ofício.
A escola passou por várias sedes até se estabelecer definitivamente em Bath, no sudoeste da Inglaterra. Por mais de um século, formou exclusivamente mulheres. Mas isso mudou recentemente: a Norland formou sua primeira turma de homens em 2018. Eles, no entanto, ainda representam uma pequena parcela dos estudantes.
O processo seletivo é rigoroso. Alunas passam por entrevistas, testes de aptidão e checagens de antecedentes. O curso completo dura quatro anos, combinando teoria e prática.
As estudantes se formam com um diploma de bacharel em educação infantil e um certificado de cuidados infantis práticos. Com mensalidades que chegam a £18 mil (cerca de R$ 130 mil), o local está entre as instituições de ensino superior mais caras do Reino Unido.
Currículo incomum
Nos primeiros anos, as alunas estudam desenvolvimento infantil, psicologia, nutrição, primeiros socorros, pedagogia, diversidade cultural e também aprendem a planejar atividades educativas. Há também um treinamento intensivo em habilidades domésticas – como lavar roupa de bebê, cozinhar refeições nutritivas, arrumar malas e organizar brinquedos.
Mas o que realmente diferencia a Norland são os treinamentos incomuns.
Todas aprendem direção defensiva e evasiva – técnicas para escapar de perseguidores no trânsito –, passam por módulos de segurança cibernética e até por cursos de autodefesa, incluindo simulações de sequestros. Também são ensinadas a identificar câmeras escondidas, contornar paparazzi e agir em situações de emergência.
“Mantivemos os elementos práticos que foram estabelecidos pela primeira vez em 1892, mas garantimos ao longo do tempo que o currículo continue relevante, então agora temos um currículo de vanguarda, adequado para o século 21”, disse Janet Rose, diretora da escola, à BBC em 2022.
O objetivo é prepará-las para cenários de risco envolvendo filhos de celebridades, bilionários ou autoridades públicas.
Uma profissional identificada como Alice descreveu ao Business Insider como teve que usar suas habilidades de combate. “Tive uma experiência em que um homem tentou levar a garotinha que eu costumava cuidar”, relatou.
“Mas, felizmente, estávamos tão bem treinadas em autodefesa que sempre me lembrei de nunca largar o carrinho onde estava o irmãozinho dela, então pude usar as habilidades que aprendi em Norland para me preparar para aquela situação.”
Hoje, ela trabalha como babá em Londres e afirma ter alcançado um salário anual na casa das centenas de milhares de libras.
Ao ingressar no último ano do curso, as alunas fazem uma espécie de residência: são designadas a famílias e passam por um período de experiência que pode durar até um ano. Após a formatura, muitas continuam trabalhando nos mesmos lares.
Os salários, segundo o Financial Times, podem ultrapassar £ 50 mil (cerca de R$ 365 mil), além de benefícios como viagens internacionais, carros e moradia paga. A demanda pelas babás é tão alta que a maioria sai empregada antes mesmo de concluir o curso. Algumas chegam a trabalhar em iates, aviões privados ou residências de campo com dezenas de funcionários.
Apesar do luxo, a rotina pode ser exigente. Uma ex-aluna, entrevistada pela BBC em 2022, contou que trabalhava até 12 horas por dia e dormia no mesmo quarto da criança. “Você se torna parte da família, mas também está sempre disponível. É um trabalho com enorme responsabilidade”, relatou.
Outro ponto frequentemente mencionado por ex-estudantes é o sigilo. Muitas assinam acordos de confidencialidade e não podem revelar para quem trabalham. O cargo exige lealdade e discrição total.
Segundo a mídia britânica, o ex-primeiro-ministro Boris Johnson teve uma babá formada pela Norland quando criança, enquanto celebridades como Mick Jagger, Gwyneth Paltrow e os Beckhams supostamente empregaram recém-formadas da instituição.
Os príncipes William e Kate Middleton também contrataram uma profissional de Norland para cuidar de seus três filhos. Trata-se de Maria Teresa Turrion Borrallo, que entrou para a faculdade em 2003 e passou a trabalhar com a família real em 2014, quando o príncipe George ainda era bebê.
Em aparições públicas, ela frequentemente veste o tradicional uniforme da escola: chapéu de feltro marrom, luvas, saia ou vestido cáqui, meia-calça e sapatos fechados.
O design é praticamente o mesmo desde o início do século 20. Uma das regras explícitas é que ele não deve ser usado para atrair atenção. Há orientações rígidas sobre maquiagem, penteados e acessórios. Mesmo fora do ambiente de trabalho, espera-se das alunas e graduadas um comportamento discreto, condizente com a imagem da instituição.
Elas são proibidas de serem vistas bebendo álcool ou frequentando redes de fast food enquanto usam o uniforme, e a escola monitora atentamente suas redes sociais. O título de babá de Norland pode ser revogado a qualquer momento, caso sua conduta seja considerada inadequada.