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Como o Spotify Wrapped calcula a “idade musical” do ouvinte?

Entenda o que é o "reminiscence bump", um fenômeno da psicologia que explica nossos gostos musicais – e que foi utilizado na nova retrospectiva do aplicativo.

Por Diego Facundini
Atualizado em 5 dez 2025, 18h14 - Publicado em 5 dez 2025, 18h08

Todo ano o Spotify tenta emplacar uma nova atração na sua retrospectiva anual, e a “idade musical” é a novidade da vez. Desde 2016, o Wrapped usa os dados de seus usuários para dizer o que e quem eles mais escutaram ao longo do ano, além de algumas outras estimativas bem-humoradas, como a nova métrica etária.

O número é o resultado de uma equação que leva em conta a idade real informada pelo usuário e o ano de lançamento das músicas que ele mais escuta.

O fator mais importante que norteia o cálculo é um fenômeno psicológico chamado reminiscence bump (ou pico de reminiscência, em tradução livre). Em linhas gerais, ele diz que nós tendemos a nos apegar mais às lembranças e gostos da juventude. No período entre a adolescência e o começo da fase adulta, esse bump é um dos grandes responsáveis pela formação dos nossos gostos.

Por isso, a idade musical do Spotify leva a juventude em questão: o app considera que as datas de lançamentos de suas músicas mais ouvidas corresponderiam ao período da sua adolescência nessa linha do tempo fictícia.

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Em 2025, a retrospectiva também trouxe outras funções inéditas, como uma corrida entre os cinco artistas mais ouvidos do usuário e o “clube musical”, uma espécie de análise dos seus gostos.

Não é a primeira vez que a empresa inova. Em 2023, o Wrapped trouxe as “cidades musicais”, que apontavam onde no mundo moravam as preferências dos ouvintes. No ano seguinte, as cidades deram lugar a um sem-fim de gêneros musicais inventados e com nomes absurdos, resultados de uma IA que tentava de alguma forma sintetizar os gostos dos usuários. (Na época, a função foi muito bem recebida).

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Agora, a proposta é fazer uma estimativa etária dos gostos dos usuários, com um cálculo que aponta não para a idade dos ouvintes, mas sim de seus ouvidos.

“Idade é só um número, né? Então, nada de levar pro lado pessoal”, diz a tela que antecede o fatídico número, que tem variado entre chamar ouvintes jovens de octagenários e levar adultos de volta à adolescência.

Os internautas, como esperado, levaram pro lado pessoal. “Estou morrendo de vergonha da minha idade musical no Spotify”, postou um usuário do X, ao lado de uma foto do ator Renato Aragão, no auge de seus 84 anos, vestindo roupas de criança. “A minha idade no Spotify!”, escreve outro, sobre um print o número de 4902 anos e uma imagem do infame comerciante mesopotâmico Ea Nasir (a idade é falsa, mas a sacada é boa).

Como qualquer big tech, o Spotify é bem pouco transparente em relação aos dados que coleta de seus usuários, ou como esses dados são usados. Apesar disso, a empresa divulgou alguns dos critérios utilizados na criação das retrospectivas personalizadas.

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“Sua idade musical é baseada no ‘reminiscence bump‘, que é a tendência de se sentir mais conectado à música dos tempos de sua juventude”, afirmou a plataforma em um comunicado. “Para conseguir sua idade musical, nós precisamos da data de nascimento informada na sua conta de 1925 ou mais recente, além de cinco streams em um período de lançamento de cinco anos”.

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Na minha época…

Muitos fatores entram na conta quando falamos da criação de um gosto musical – idade, gênero, classe, personalidade –, mas nenhum é tão determinante quanto a idade. Mais especificamente, nós temos a tendência de cultivar um apreço muito maior pelas músicas que ouvimos entre o final da adolescência e o começo da fase adulta. O ponto máximo disso acontece ao redor dos 16 anos.

Esse período da juventude é um dos mais importantes para a formação de memórias autobiográficas, isto é, as lembranças que temos na nossa própria vida. O nome disso é reminiscence bump, um fenômeno bastante estudado. As estimativas quanto ao período que ele abrange variam, mas em geral giram em torno da faixa dos dez aos trinta anos.

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Uma das hipóteses para explicar esse pico tem a ver com o desenvolvimento do nosso cérebro. É nesses anos que nosso cérebro atinge potência máxima, e fica melhor do que nunca em reter e processar informações.

O Spotify, na sua estimativa, usa uma faixa mais modesta de cinco anos, entre os 16 e os 21. Ele primeiro leva em conta a idade real do usuário, e compara as datas de lançamentos de suas músicas mais ouvidas com as de outros da mesma idade. Daí, ele elege uma faixa de lançamento de cinco anos, e estima qual seria sua idade se esses período fosse justamente a fase em que o usuário passou pelo pico do seu reminiscence bump.

Para simplificar, imaginemos um jovem britânico hipotético, aficionado do post-punk (aquele gênero musical que apareceu no final dos anos setenta e sucedeu o punk rock). Nascendo em 1966, ele teria seus 16 aninhos quando a banda The Smiths tocou seu primeiro show.

Supondo que ele tenha acompanhado o conjunto até seus derradeiros momentos, em 1987, o período formativo no qual ele cultivou seus principais afetos na música teria coincidido perfeitamente com os cinco anos de atividade da banda, da qual ele seria um fãnzasso.

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Agora, imaginemos um usuário do Spotify hoje, com seus vinte anos de idade, que escuta as lamúrias de Morrissey e companhia numa frequência bem maior que seus contemporâneos. O Spotify provavelmente diria que sua idade musical era a mesma daquele velho geezer: 59 anos.

No final, o que o Spotify faz é descobrir a faixa de meia década na qual as músicas que você mais ouve foram lançadas e criar um ouvinte hipotético, cujos períodos formativos coincidiram com esse tempo de lançamento: a idade dele é sua “idade musical”.

 

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