Fabrício de Castro
Como você faria para comprar pão se o padeiro da esquina não fosse com a sua cara? O caso de Israel é parecido: seus vizinhos árabes são os maiores exportadores mundiais de petróleo, mas não reconhecem seu direito de existir.
Produzindo só 2,6% do óleo que consome, o jeito é recorrer a fornecedores alternativos, como a ex-URSS e o mercado aberto de compra e venda de petróleo (na gíria financeira, spot market), como o do Porto de Roterdã, na Holanda – uma espécie de sacolão de commodities.
Desde o início desta década, Israel compra petróleo de Rússia e Ucrânia. A quantidade importada, no entanto, é assunto de segurança nacional. O restante é adquirido por Israel no mercado spot holandês. Lá, compradores e vendedores negociam sem que ocorra a identificação das partes. “Os países árabes acabam vendendo a Israel no mercado aberto. É uma forma indireta de venda, já que o petróleo nesse mercado não vem com selo”, afirma Alexandre Szklo, professor de planejamento energético da UFRJ.
Um dos fornecedores no spot market seria o próprio Irã, inimigo declarado de Israel. “Mas o Irã desmente isso, porque os árabes não poderiam dizer, abertamente, que o seu petróleo abastece Israel”, diz Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da UFF.