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Filmes com boas representações femininas têm a mesma chance de sucesso – e são ótimos investimentos

Estudo indica que a desigualdade de gêneros em Hollywood não pode ser justificada pela planilha financeira

Por Jessica Soares
Atualizado em 4 nov 2016, 19h14 - Publicado em 19 Maio 2016, 17h45

É Frank Underwood quem quebra a quarta parede para, de tempos em tempos, dar uma piscadela para o pessoal de casa. Mas evite se deslumbrar com as jogadas de poder do político ou vai acabar cometendo o mesmo erro do corrupto presidente da ficção. É sempre bom lembrar: House of Cards não seria nadinha sem Claire Underwood. E Robin Wright, a atriz responsável por dar vida à ambiciosa e implacável primeira-dama, sabe bem disso. Em negociações com os produtores, a artista – que também tem crédito de Produtora-Executiva da série e dirigiu sete episódios do programa original da Netflix – foi tão firme quanto sua versão nas telas para reinvindicar um salário igual ao de seu colega Kevin Spacey, que recebia pelo menos um milhão a mais que a atriz por temporada.

“Há muito poucos filmes ou programas de TV onde o patriarca e a matriarca são iguais. E eles são [iguais] em House of Cards“, afirmou Wright. Além de ser justo que os protagonistas sejam pagos igualmente, a atriz tinha ainda um trunfo a seu favor: a vida imita a arte e Claire mostrou ser mais popular entre o público do que Frank em alguns momentos da série, algo que Robin usou ao seu favor, alertando que, se não recebesse o aumento, iria fazer criticas públicas ao programa. Funcionou.

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Robin está longe de ser a única vítima da desigualdade de gêneros na industria cinematográfica, mas é uma das poucas atrizes em posição de topar e ganhar essa briga. O problema não se limita às cifras – como já falamos por aqui, menos oportunidades para mulheres e para artistas negras e negros é a regra do jogo na telona, e é uma realidade que se repete na telinha. Não faltam artistas talentosíssimas em Hollywood e, a cada ano, fica mais difícil explicar o descompasso. Graças a um estudo desenvolvido pelo Flick Filosopher, usar a planilha financeira como argumento não vai colar mais.

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O portal, conduzido pela escritora e crítica de cinema MaryAnn Johanson, resolveu contestar uma velha máxima hollywoodiana: a de que filmes protagonizados por mulheres fazem menos dinheiro. Uma olhadinha rápida em alguns sucessos de 2015 já mostra que esse “argumento” é furada – filmes de gêneros diversos como Mad Max: Estrada da Fúria, A Escolha Perfeita 2, Cinderela, Sicario e 50 tons de cinza, todos protagonizados por mulheres bastante diferentes, lideraram as bilheterias. Como parte do projeto Where are the women?, parcialmente financiado por uma campanha do Kickstarter, MaryAnn analisou 153 filmes lançados no ano passado para descobrir não apenas onde estão as mulheres nas telas, mas também como elas são representadas.

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Os primeiros resultados do estudo mostram o que a gente sabe bem: apenas 22% dos filmes traziam protagonistas femininas, enquanto 62,7% dos longas apresentavam elencos formados majoritariamente por homens.

A escritora analisou também quantos desses longas traziam boas representações femininas – personagens humanas que, longe de se aproximarem de ideias de “perfeição”, lidam com os mesmos tipos de falhas e dificuldades que os homens nas telas. E aí, já viu: apenas 31% dos 153 filmes lançados em 2015 traziam representações complexas de mulheres – ficaram de fora até mesmo filmes protagonizados por personagens femininas que o estudo julgou mal construídas. Atribuíndo uma nota, compreendida entre -150 e 150, a cada um dos filmes, a crítica de cinema descobriu que quando se analisa com que frequência mulheres são representadas como seres humanos nas telas, Hollywood fica no negativo: a média das notas dos longas lançados em 2015 foi de -13. 

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Levando em conta os orçamentos dos filmes analisados, MaryAnn constatou algo importante: não há diferença significativa entre o custo de produção de um filme com mulheres complexas e um longa com personagens femininas mal representadas. Ou seja, não custa mais tratar mulheres como pessoas. Mais que isso, pode até ser um negócio mais rentável: o orçamento médio de filmes com personagens femininas interessantes é 20% mais baixo. Na bilheteria, elas também não saíram na pior: longas liderados por mulheres se deram tão bem quanto os liderados por homens nas bilheterias. Quem curte cinema parece curtir variedade na tela: a análise constatou que a reação do público mostra pouca variação quando observado o gênero do ator ou atriz principal – histórias de homens e mulheres recebem a mesma média de reações e parecem interessar igualmente o público. Na dúvida, pergunte para Claire Underwood.

A análise completa pode ser vista aqui.

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