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Livro da semana: “A Invenção da Natureza”, de Andrea Wulf

A biografia de um naturalista popstar que anteviu o aquecimento global, fez Darwin descobrir sua vocação e escreveu um livro sobre tudo.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 out 2020, 20h14 - Publicado em 7 out 2020, 20h13

“A Invenção da Natureza” | clique aqui para comprarLivro da semana: “A Invenção da Natureza”, de Andrea Wulf

O Darwin de vinte e poucos anos não era tão diferente da maioria das pessoas com essa idade. Seus privilégios eram bem acima da média, é verdade: tinha um pai podre de rico, o que sem dúvida lhe poupou de um bocado de boletos inclusive as mensalidades do curso de Medicina na Universidade de Edimburgo, a melhor do mundo na época.

De resto, porém, Charles era só um playboy loiro de desempenho acadêmico mediano, que morria de aflição de abrir os pacientes com bisturi. Já sabia que não daria um bom médico. Seguiu os passos do pai por incapacidade de tomar uma decisão melhor por conta própria. Passava seu tempo livre brincando com cachorros e armas, e adorava caçar besouros incomuns (parece excessivamente CDF, mas era o Pokémon GO da época).

Tudo mudou quando Darwin leu os relatos de viagem de Alexander von Humboldt, o naturalista alemão famoso por explorar a fauna, a flora e a geologia dos Andes e da Amazônia. “A minha admiração por sua famosa Narrativa Pessoal (parte da qual conheço quase de cor)”, escreveu Darwin, “fez com que eu decidisse viajar para países distantes e me levou a me candidatar como naturalista no HMS Beagle.” O resto é história.

Se você não tiver paciência para encarar os escritos do próprio Humboldt – nem sempre é fácil mergulhar em um autor do século 18 –, dá para ter uma epifania parecida com a de Darwin lendo A Invenção da Natureza, de Andrea Wulf (Editora Crítica, 2015). A biógrafa conta, em um ritmo contagiante, uma vida do homem que gerou inveja em Napoleão, escalou montanhas com as solas das botas rasgadas, atravessou a Sibéria a pé e denunciou a opressão dos povos nativos, a escravidão e a colonização.

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No processo, Humboldt inventou a concepção contemporânea de natureza: entendeu que a Terra é um sistema fechado, em eterna reciclagem. Que nós morremos e nos tornamos matéria prima para os seres vivos que virão depois. Ele percebeu que todos os continentes tem vegetação e clima parecidos em latitudes parecidas; e percebeu que esses padrões se repetem em miniatura nas montanhas: conforme subimos e a temperatura cai, as plantas tropicais são substituídas por espécies de zonas temperadas.

Se deu conta de que as florestas enriquecem a atmosfera com umidade e evitam que o solo sofra erosão. Talvez tenha sido o primeiro a entender que a agricultura e a pecuária são capazes de gerar mudanças profundas nos biomas. Humboldt não é só um precursor da ecologia como ciência. Ele também foi o patrono de cada repórter da National Geographic. Sua obra máxima, intitulada Cosmos, consiste em cinco volumes dedicados a falar sobre tudo que existe no mundo. Cada folha entrou.

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