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Star Wars – cibernética a serviço da medicina

Uma das mais incríveis aplicações tecnológicas vistas na saga é a integração entre próteses robóticas e humanos – sem falar nos robôs-cirurgiões.

Por Redação Super
Atualizado em 23 out 2020, 12h14 - Publicado em 10 jan 2020, 16h13

Quando George Lucas decidiu abrir seu primeiro filme da saga com dois droides vagando pelos desertos do planeta Tatooine, ele deixou claro que robôs teriam um papel preponderante na história de Star Wars. O que talvez surpreenda, em retrospecto, é o quanto os filmes anteviram a importância da tecnologia cibernética para o futuro da nossa civilização. Era só coisa de ficção científica nos anos 1980 quando Luke Skywalker ganhou uma prótese robótica para substituir sua mão perdida no fatídico confronto com Darth Vader. Vemos o jovem exercitando o controle sobre seu novo membro e todos os movimentos funcionavam tão bem quanto a mão original, comandados diretamente por seu cérebro.

Hoje, as chamadas conexões cérebro-máquina, que viabilizariam esse tipo de aplicação, não são mais mera fantasia. Diversos pesquisadores espalhados pelo mundo – dentre eles o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, da Universidade Duke, nos Estados Unidos – trabalham em formas de conectar o cérebro humano a membros robóticos que funcionem tão bem quanto o original.

A aplicação também é a mesma vista no filme: recuperar membros perdidos por meio de próteses cibernéticas. E o trabalho segue avançando, embora ainda possa levar um tempo até que atinja a proficiência vista no cinema.

Nicolelis promoveu uma demonstração pública de seu trabalho durante a abertura da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. Nela, um paraplégico usava um exoesqueleto para chutar uma bola. O movimento em si não foi muito impressionante, e a interface usada – uma touca que fornecia dados de eletroencefalografia (EEG) para controle da prótese – não parece ser a mais eficiente. Segundo o cientista, contudo, o grande avanço foi que o voluntário sentiu de fato o chute na bola. Ou seja, a prótese também enviou ao seu cérebro a sensação de que seu pé havia trombado com alguma coisa.

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Pode parecer um começo tímido para a tecnologia, mas, quando Star Wars foi aos cinemas pela primeira vez, nada disso era sequer cogitado como experimento possível. Hoje, já é difícil imaginar um futuro em que ela não exista.

São dois os pontos críticos para levá-la a termo. O primeiro é desenvolver programas de computador suficientemente sofisticados para entender os sinais transmitidos pelo cérebro. A essa altura, essa é a parte que está mais evoluída. Em seus testes, Nicolelis sempre “treina” os voluntários – sejam eles humanos ou animais –, de forma que eles aprendam a usar o membro robótico cada vez melhor, e o computador, por sua parte, seja capaz de compreender os sinais cerebrais com eficiência crescente.

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O segundo ponto é mais complicado: como extrair os sinais do cérebro? Nos experimentos feitos com animais, os pesquisadores lançam mão de eletrodos implantados cirurgicamente. Com isso, é possível detectar sinais muito sutis, às vezes envolvendo apenas uns poucos neurônios. Contudo, é extremamente complicado levar essa tecnologia para a aplicação em humanos. Afinal, cirurgia cerebral não é – e provavelmente jamais será – um evento trivial. Você espetar um cérebro saudável com eletrodos, correndo o risco de danificá-lo, não é eticamente aceitável, por mais que o benefício possa ser algo tão importante quanto a recuperação dos movimentos com membros cibernéticos.

No caso do experimento realizado na abertura da Copa do Mundo, o uso da touca de EEG para a captação de sinais tinha um lado bom e um ruim. É uma técnica não invasiva (bom!), mas que pega apenas sinais muito fortes e claros do cérebro (ruim!). A moral da história é que esse método gera muitas limitações e restringe a tecnologia de membros sintéticos controlados pelo cérebro.

Enquanto não desatarmos esse nó, desenvolvendo meios de captar os sinais cerebrais de forma mais eficiente sem ter de abrir a cabeça de alguém (ou, alternativamente, encontrarmos meios completamente seguros de implantar eletrodos no cérebro), o negócio não vai avançar muito mais.

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(Índio San/Superinteressante)

DROIDES ESPECIALISTAS

Outra “previsão” que os filmes fazem sobre robótica é o desenvolvimento de equipamentos dotados de inteligência artificial, capazes de executar tarefas de precisão que antes requeriam humanos.

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Nem precisamos perder muito tempo vendo como o sistema de tradução automática do Google já faz um papel similar ao de droides de protocolo como o C-3PO – embora, é claro, o tradutor da gigante da internet ainda não seja versado em “mais de 6 milhões de formas de comunicação”, como o droide dourado criado por George Lucas. Mas o mais impressionante é conhecer os médicos cirurgiões da galáxia distante. Pode reparar. Em geral, são todos robôs.

Lucas não estava viajando na maionese. Os primeiros robôs capazes de ajudar médicos em cirurgias apareceram nos anos 1980, mas só em 2006 um equipamento dotado de inteligência artificial faria pela primeira vez uma cirurgia sem qualquer assistência humana. Os resultados foram classificados como “melhores do que os de um cirurgião humano acima da média”.

É o primeiro sinal de que as salas de cirurgia, no futuro, serão mesmo província exclusiva dos droides. Mas será que poderemos substituir todos os médicos humanos por robôs? E aquele toque caloroso no trato com os pacientes, a capacidade de empatia que ao menos os melhores doutores precisam ter?

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Bem, isso vai depender basicamente de duas coisas: o desenvolvimento de inteligência artificial capaz de emular essas qualidades e a capacidade humana de se relacionar com objetos não humanos como se eles estivessem vivos.

Quanto à segunda parte, parece garantido que sim – nós temos uma tendência tão grande a antropomorfizar objetos que hoje mesmo já tratamos animais de estimação, brinquedos e até mesmo automóveis como se fossem humanos. Não há por que supor que não faríamos o mesmo com um robô-médico.

Resta portanto a questão da inteligência artificial. E, ao que tudo indica, isso também não deve ser um grande problema. Alguns especialistas, como o tecnólogo americano Ray Kurzweil, que atualmente faz consultoria para o Google, sugerem que os primeiros computadores com nível de inteligência similar à humana devem aparecer até o final da próxima década.

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