Em vez de criarem arte bela, os dadaístas preferiam traduzir a insanidade que viam no mundo.
Texto: Diogo Antônio Rodriguez | Edição de Arte: Daniela Tiemi | Design: Andy Faria | Ilustrações: Mauricio Planel
1ª Guerra Mundial foi um dos conflitos mais sangrentos da história e o primeiro a atingir uma escala mundial, o que chocou a todos. Em fevereiro de 1916, em Zurique, na Suíça, artistas e escritores tentavam entender o que estava acontecendo. Formaram um grupo e abriram o Cabaret Voltaire, um lugar onde podiam se expressar. Ali nasceu o dadaísmo.
EXPRESSANDO A LOUCURA
O escritor alemão Hugo Ball foi um dos líderes, organizando as atividades no Cabaret. Um dos temas recorrentes era a reação às instituições tradicionais, como governos, exércitos e políticos – vistos com desconfiança por terem gerado um conflito tão desumano. Em vez de criarem arte bela, os dadaístas preferiam traduzir a insanidade que viam no mundo.
O AVANÇO É UM ATRASO
Além de se oporem à guerra, eles criticavam a ciência – que deveria fazer o mundo evoluir, mas estava sendo usada para matar milhões. Também sobraram farpas para a própria arte. Segundo os adeptos do dada, ela estava enferrujada, presa às galerias e aos ideais de beleza ultrapassados. Outros alvos favoritos eram a sociedade, as autoridades e a Igreja.
Arte para todos
O mais importante não era criar objetos estéticos, mas passar ideias poderosas. Por isso, qualquer coisa poderia ser arte. Afastando-se da tradição, os adeptos usavam técnicas novas, como colagem e fotografia. Mas a mais icônica foi o “readymade”: a transformação de um objeto comum manufaturado em obra, ao tirá-lo do cotidiano e inseri-lo no ambiente artístico.
Uma obra privada
O francês Marcel Duchamp foi o primeiro a bolar um readymade. Pegou um mictório, virou-o de cabeça para baixo, assinou com um pseudônimo (R. Mutt) e o inscreveu em uma exposição em Nova York com o título Fonte. Era uma forma de perguntar: o que define algo como arte? Quem tem o poder de dizer o que pode ser considerado uma obra?
Esfaqueando dicionários
A aleatoriedade sempre teve um papel importante no dadaísmo. Vários membros deram explicações diferentes à origem do nome, por exemplo, mas a mais aceita diz que, em uma reunião no Cabaret, alguém enfiou uma faca em um dicionário francês-alemão. A palavra “atingida” foi “dada”, que significa cavalo de pau (o brinquedo) em francês.
Curto e grosso
O dadaísmo não era exatamente um movimento, com regras e diretores, mas um modo de expressão. E foi breve: acabou ainda em 1916, depois que o Cabaret fechou. Mas, mesmo assim, impactou toda a arte do século 20. Sua influência pode ser encontrada, por exemplo, na versão alemã do dadá em Berlim, no surrealismo, na pop art e no abstracionismo.
A revolução será televisionada
Seu legado também está presente na ampliação da linguagem artística. As videoinstalações, a mistura de diferentes mídias, a arte performática e outras formas criativas de criar experiências para o público também são consequências, diretas ou indiretas, do embalo dadaísta.
Os principais artistas
Hugo Ball (1886-1927), escritor e poeta alemão.
Principal obra: Gadji Beri Bimba (1917).
Raoul Hausman (1886-1971). Fotógrafo, pintor, escritor e escultor austríaco.
Principal obra: Cabeça Mecânica (1919-1920).
Hannah Höch (1889-1978). Alemã, pioneira da fotomontagem.
Principal obra: Golpe com uma Faca de Cozinha Dada na Última Cultura de Barriga de Cerveja da República de Weimar, na Alemanha (1919).
Max Ernst (1891-1976), pintor e escultor naturalizado francês.
Principal obra: Aquis Submersus (1919).
Marcel Duchamp (1886-1968). Pintor, escultor e artista francês.
Principal obra: Fonte (1917).