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A Bíblia pode ter sido escrita bem antes do que se imaginava

Listas de compras de 600 a.C. levaram cientistas a reconsiderar a data em que o texto foi escrito

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 31 out 2016, 19h01 - Publicado em 14 abr 2016, 20h15

Estudiosos tentam definir há séculos quando os principais trechos do Velho Testamento foram escritos e compilados para montar o livro sagrado. Agora, a tecnologia ajudou a interpretar textos que podem ajudar a redefinir a data de criação da Bíblia – e alguns desses escritos são tão banais quanto listas de compras.

A maioria dos especialistas concorda que o conteúdo do Pentateuco – os cinco primeiros livros da Bíblia – foi passado de geração em geração na forma oral até perto do ano 586 a.C.

Foi nesse ano que Nabucodonosor derrotou os judeus e destruiu Jerusalém, levando a elite sacerdotal dos judeus para o exílio na Babilônia. Até recentemente, muitos estudiosos achavam impossível que trechos da Bíblia tivessem sido escritos antes do exílio. Isso porque não havia nenhuma evidência de que o povo de Israel tivesse uma classe de intelectuais e escribas sofisticada o bastante para produzir documentos complexos. A ideia corrente, então, é a de que o Pentateuco só teria ido para o papiro pela primeira vez durante as décadas que a elite judaica passou na Babilônia – a sociedade mais avançada daquele tempo, de longe. 

Mas “listas de compras” encontradas no Forte de Arad, perto do Mar Morto, colocam essa tese questão. As listas vinham escritas em peças de cerâmica que vêm do ano 600 a.C., 15 anos antes da imigração forçada para a Babilônia.

LEIAQuem escreveu a Bíblia?

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Com softwares de reconhecimento de imagens, os cientistas conseguiram interpretar esses textos e estimar quantas pessoas as tinham escrito. Além de pedidos de alimentos, também havia listas de chamada dos pelotões do exército e registros de estratégias de guerra, por exemplo.

A partir da análise de caligrafia, eles concluíram que ao menos 6 pessoas diferentes escreveram as 18 das mensagens analisadas – uma variação razoável, indicando que a sociedade do Reino de Judá era mais letrada do que se imaginava.

O conteúdo de cada mensagem também indica que os acontecimentos mais banais no exército eram anotados tanto pelo alto escalão quanto pelos soldados menos privilegiados. Mas o que isso tem a ver com a Bíblia?

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Um exército sistematicamente alfabetizado, independentemente da importância do cargo, surpreendeu os cientistas. Eles supõem que, para que esse nível de comunicação escrita fosse atingido, é provável que tenha existido algum tipo de escola de alfabetização em Judá. Com isso, mesmo uma coleção de livros complexa como o Pentateuco poderia facilmente ter sido escrita antes de 600 a.C.

O próximo passo dos estudiosos é descobrir o que aconteceu com os registros escritos após a vitória da Babilônia. Só foram encontrados textos tão aperfeiçoados em hebraico ou aramaico datados 400 anos depois das listas de compras, em 200 antes de Cristo.

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