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A cidade subterrânea de 2 mil anos e 8 andares em Derinkuyu, na Turquia

Esse bunker de 85 m de profundidade, com capacidade para milhares de refugiados, tinha capela, salas de aula, estábulos e fábricas de vinho e azeite.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 abr 2024, 14h25 - Publicado em 19 abr 2024, 14h00

Em 1° de abril de 1909, a população islâmica de Adana, no Império Otomano, massacrou a minoria armênia cristã que morava e trabalhava em alguns quarteirões da cidade. Foi um pogrom nome russo para um ato pontual de genocídio propagado espontaneamente pela população, com anuência ou vista grossa das autoridades. 25 mil morreram.

Com medo de que a violência se espalhasse o que aconteceria depois, com a matança sistemática de mais de um milhão de pessoas a partir de 1915 , um grupo de armênios do interior do atual território turco e se escondeu em uma relíquia arqueológica na Capadócia: a cidade subterrânea de Derinkuyu.

Esse abrigo oculto provavelmente começou a ser construído pelos frígios 700 anos antes de Cristo. Outra possibilidade é que seja obra dos hititas, que teriam dado início aos trabalhos originalmente para se proteger da invasão fríga. A primeira referência escrita à cidade está na Anábase, uma aventura em sete livros escrita pelo militar Xenofante em 370 a.C.

Após a queda do Império Romano, os bizantinos transformaram o bunker em um complexo com 85 metros de profundidade, oito andares (algumas fontes falam em 11 ou 18) e capacidade para milhares de refugiados. O local tinha refeitórios, capelas, salas de aula, adegas, estábulos, prensas para fabricação de azeite e vinho e todo o resto da infraestrutura e dos suprimentos necessários para que a população de uma cidade permanecesse enclausurada por  semanas ou meses.

Poços com 30 metros de altura ventilavam a área total de 650 m², e as câmaras eram separadas umas das outras por portas de pedra redondas de meia tonelada, que rolavam para abrir e fechar e eram ótimas em conter soldados e incêndios propositais. A iluminação era garantida por lamparinas acesas com óleo.

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Derinkuyu é o mais famoso (e provavelmente o maior) desses abrigos, mas não é a único do tipo. Ao longo da história, a rocha vulcânica macia e maleável presente no solo da Capadócia permitiu a construção de mais de duzentos abrigos subterrâneos de diferentes tipos e tamanhos. Alguns deles eram conectados entre si por túneis com quilômetros de extensão.

O auge do uso dessas estruturas rolou entre os séculos 7 e 11 depois de Cristo, durante os conflitos entre os califados islâmicos e o Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente), que era católico ortodoxo. Depois, quando os mongóis atacaram no século 13, essa rede de cavernas artificiais voltou à ativa para proteger a população da crueldade do exército de Gengis Khan.

O complexo de Derinkuyu só seria abandonado de vez na década de 1920, quando os últimos gregos cristãos que viviam na Capadócia e se protegiam dos turcos nesses túneis fugiram para a Grécia. Então, em 1963, um granjeiro local redescobriu a cidade porque suas galinhas haviam encontrado uma entrada secreta para os túneis e tinham o hábito incômodo de desaparecer para sempre dentro deles. 

Desde então, turistas particularmente resistentes à claustrofobia podem visitar algumas salas do complexo por um ingresso de 35 liras turcas, o equivalente a R$ 5,50. Uma opção curiosa para quem visita um lugar famoso pelos balões no céu, e não pelos buracos no chão.

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